[A Rebelião dos Cães]
Aqueles cães marchavam organizadamente... eram vários, de todos os tamanhos, e não havia lutas entre eles. Marchavam como uma tropa organizada e disciplinada: à frente e nos flancos do pelotão, iam os mais fortes, os filas, os pastores alemães, os gigantescos dinamarqueses, os dobermans, os rottweilers, e até os mal-humorados pitbulls. No centro, protegidos pela muralha dos grandes cães, iam os menores, os bassês, pinschers, fox e outras raças pequititas.
Mas em todos os olhares, estava escrita a palavra "Vingança!". Eles se dirigiam a um bairro onde moravam os executivos das grandes fábricas de rações! O plano era cercar as suas casas, e antes de rasgá-los em tiras, obrigá-los a comer daquela desgraça fedorenta de ração a que os cães são submetidos todos dias, todos os dias!
Mas não pude ver o resultado: antes que os cães entrassem no luxuoso condomínio, eu acordei... E então, eu pensei: será que um dia, os milhões de desgraçados, os miseráveis, os enjeitados desta nação irão marchar assim, como aqueles cães, sobre uma certa Babilônia dos cerrados... obrigá-los a comer o pão encharcado das águas podres das palafitas, o pão amargo que o diabo amassou com o rabo? Será?
Todo sonho é uma ação engendrada e em seguida, abortada, é?
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[Sonhado no Desterro, em 30 de dezembro de 2012]