Dias de crise

Elisa levantava todos os dias e se preparava para mais um dia igual ao anterior. Elisa falava do que sentia e inspirava pessoas a escreverem sobre aquilo. Elisa às vezes sentia inveja da chuva que caía do lado de fora da janela porque depois passava e dentro dela havia um temporal que não queria passar de jeito nenhum.

De tempos em tempos ela tinha seus dias de crise. Esses dias eram até bons por um lado porque ali ela colocava pra fora pelo menos um pouco de tudo o que havia acumulado em um determinado espaço de tempo. Mas esses dias eram tristes demais para Elisa e ela acabava incomodando os outros com toda aquela baboseira de tristeza, choro e saudade.

Em dias de crise muitas e muitas coisas que ela enterrava com a desculpa de ter esquecido retornavam e a sufocavam. Em dias de crise ela queria que aquela tempestade deixasse de fazer parte só de seu interior e a liberasse de vez, fosse pra fora, transbordasse pelos seus olhos e te desse um pouco de alívio. Em dias de crise ela não precisava das palavras que escreviam sobre o que ela sentia, sobre o quão estúpida estava sendo ou coisas assim. Em dias de crise ela só queria se isolar de tudo, até de seus próprios pensamentos. Em dias de crise as ideias e vontades mais absurdas passavam pela cabeça de Elisa e isso a enlouquecia aos poucos. “Será que querer que isso acabe é pedir demais?”, Elisa se perguntava toda vez que se deitava sozinha em seu quarto escuro e seus fantasmas vinham assusta-la.

Debora Santos
Enviado por Debora Santos em 30/12/2012
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