Arrumar-se

Arrumar a casa pode ser cansativo e, até mesmo difícil. Cada cômodo, revirado, como se visitado por um

invasor. E, talvez, realmente o tenha sido. Abre-se inúmeras gavetas. Muito se quer jogar pela janela: tudo o

que, querendo chamar de passado, ainda faz com que o sorriso se guarde, selado por lábios que insistem em

tremer. Joga-os. Observa como voam facilmente para longe, sem que nada- definitivamente nada- os soprem

com tamanha força para que voltem para perto de si, por mais que, em segredo, pedisse, em oração, um

imenso vendaval. Se possível, um furacão.

Não eram mais meus, afinal.- Se forçava a dizer. Então, voem. Voem para longe... Simplesmente voem!- tomava

fôlego e coragem.

Ainda não satisfeita, fez questão de mudar. Trocou quase tudo de lugar: de lá pra cá de cá pra lá e, no final,

tudo voltou ao mesmo, exato, lugar. Cansada, joga-se no sofá. Para sua surpresa: tudo tão igual e, mesmo

assim, parece nova, brilha como nova. Satisfeita, suspira. Sentindo-se incrivelmente forte, SORRI.