Telefonema

Ah, as danadas das armadilhas que nossa própria imaginação arma em meio a um caminho

besta de tão simples! Um telefonema inesperado que seja é motivo para uma ratoeira

delicadamente posta na cabeceira da cama. A “não-ligação”- ou um sinal de fumaça, oras, seja

criativo!- no entanto, o faz acordar em um calabouço de pesadelos. Faz com que se criem mil e

uma histórias diferentes, sendo a maioria regadas de muito álcool, música e peitos que fizeram

com que sua rota fosse mudada- aceite, em nenhuma delas você estava cansado e pegou no

sono, seria simples e inofensivo demais. Você já me parece bem grandinho, não é mesmo?!

Acreditem, dedos presos a uma ratoeira são um problema bem menor do que ter que se

justificar de todas as festas que pode ter ido, de todos as mulheres com quem pode ter saído

e de por que cargas d’água você mentiu todas as vezes em que disse, olhando no olho, com

seu ar meio tonto e a voz rouca aquele simples e inesquecível “eu te amo”. Correr esse risco é

estupidez. Fazer-se presente, mesmo de longe, não dá margem para devaneios. Já a ausência...