Entre dois nadas
 
     Pode parecer estranho, mas não escrevo diário, muita gente escreve, mas eu não, nunca escrevi. Acho que um dia é muito curto, embora as horas se arrastem interminavelmente, principalmente quando se está mergulhado em intensos sofrimentos. Sinto que, nessas horas, o tempo parece parar, esconder-se atrás de uma árvore e ficar lá, só nos observando, zombando de nós. Depois, quando se cansa da brincadeira, ele volta ao trabalho e, aí, tem que correr para colocar os acontecimentos em dia.
     O dia é muito curto sim, mas é nele que as coisas acontecem. É nos momentos, nos minutos, na incessante rotina das horas que a vida se desenrola. O que já passou é um nada, não importa mais, não podemos revivê-lo, não podemos mudá-lo. E o que ainda não aconteceu não pode influenciar-nos, pois nem sabemos se vai acontecer: também é um nada. Então, a vida só existe no momento presente – esse, que agora já se foi – entre dois nadas.
Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 27/12/2012
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