O Espírito Natalino
- Enquanto os leões brigam entre si com unhas e dentes - às vezes até a morte - por um pedaço de carne, humanos brigam através de uma caixa chamada computador, e utilizam uma arma chamada opinião.
- Vá brigar com unhas e dentes com algum humano por um pedaço de carne, então.
- Com quem, com um açougueiro? Sou o único que pensa assim. Sou visionário.
- Um visionário que brigaria por um pedaço de carne.
- Melhor do que brigar por motivos religiosos, étnicos, sexistas.
- Os dois lados são fúteis, eu prefiro não brigar.
- Se você não quiser brigar, basta não dar sua opinião, ou estar morto de fome e querer provar sua superioridade.
A discussão continuou, ficando mais fervorosa a cada momento.
- Posso muito bem dar minha opinião e continuar um homem de paz. Sou um ser racional, sei questionar e sei como não ser um bárbaro.
- Se você calasse a sua boca, e procurasse não ir contra toda opinião que pusessem na sua frente, talvez eu acreditasse que você prefere não brigar.
- Se você falar deste modo comigo novamente, talvez eu reveja o fato de eu saber como não ser um bárbaro.
Quando o outro estava prestes a atacar, o relógio marcou meia-noite e ouviram-se as doze badaladas. De repente, o espírito natalino invadiu o coração dos dois indivíduos.
- Oh, como somos tolos, deixemos esta discussão de lado, e vamos para a ceia, Feliz Natal!
- Ah sim, desculpe-me, me exaltei. Feliz Natal!
Pouco tempo depois estavam sobre a mesa brigando pelo último pedaço de carne. Mas logo se resolveram, e voltaram a ser corteses, pois era Natal.