Sopro de vida

Quanta coisa ainda por fazer, trabalho, estudos, reuniões, obrigações tolas. Quanto remédio para tomar dentro dessa caixa suja, esses móveis velhos carcomidos pelo tempo, as fotos amareladas sobre a mesa. Aquele menino feliz de outrora hoje jaz num campo florido a espera da ressurreição prometida, o adulto carrancudo espera pacientemente chegar a sua vez de descansar os velhos ombros, que há muito já carregam o peso das responsabilidades sem esboçar nem um sorriso qualquer diante da vida. Aliás vida não vivida, não sentida como de fato era pra ser, se tem passagens rápidas entre o nascimento e a morte, enquanto se esperam grandes feitos de felicidade, a roseira nos presenteia com a sua flor, os pássaros com seu canto, o velho cão abana seu rabo e “sorri”, e ainda se espera algo descer do céu e mostrar o caminho da verdadeira felicidade. Só é feliz quem sabe ser, teorias foram criadas, pesquisas, estatísticas, enfim uma gama de coisas inúteis para tentar explicar algo mais simples, algo que está aquém dos olhos, aquele amor que deixamos de lado, o bom dia que não damos, o suspiro de vida ao acordar para ver o nascer do sol, a gana de ver a vida como ela é, sabendo de todas as dificuldades e mesmo assim ter coragem para enfrentá – las, sabendo que se pode vencer. O sopro da vida está cada vez mais curto diante de tanta coisa a se fazer, e esse sopro vital não se vende engarrafado em enormes botijões, é quantia única e certa a cada um.