Que tempo?
E vi em seus olhos tamanho assombro ao se inteirar de minha história que não pude deixar de rir. Em visão periférica, percebia que ainda me olhava e que me media da cabeça aos pés, fixando-se em meu cabelo desarrumado com expressão séria, piscando insistentemente, uma reação tão comum que para mim já soava entediante.
Sim, eis minhas escolhas, totalmente distantes daquelas habituais para alguém de minha idade. O que (provavelmente) mais o espantou foi a naturalidade com que discorri os fatos. Podia alguém ter vinte e três e pensar quarenta, senão mais?
Não via o presente com entusiasmo, o melhor já havia passado antes de minha existência. E os outros pensavam que era uma percepção saudosista, nostálgica e arrasadora de boas relações sociais, não a abandonei, prendi-me a um passado transcendente, a uma realidade que jamais havia presenciado. "Viva o seu próprio tempo" - diziam - mas que tempo? Estar alheio às ideologias e costumes da época não era pertencer a um tempo. E que tempo era aquele?