MEU VÍCIO
É assim que é. Sem super-heróis, vilões ou mocinhos. Sem ninguém para me salvar de mim mesma, das minhas próprias faces e farsas. A vida é menos emocionante que nos filmes e nos livros, talvez pela falta de uma trilha sonora perfeita para cada instante ou porque a insensibilidade alheia sempre acaba enterrando nossos momentos épicos.
Eu não quero o príncipe perfeito, impecável em tudo e mais lindo que o humanamente possível, não... Talvez eu só espere por alguém tão flexível quanto eu, capaz de se reinventar a cada novo dia, não de mudar como numa espécie de bipolaridade, mas com a habilidade de agregar novidades a si mesmo sem que para isso sejam necessários fatos impactantes.
A questão é que eu gosto de mudar, de me refazer, de trazer e mostrar novas faces, versões que podem sempre surpreender, não necessariamente por serem melhores, mas por simplesmente ser diferentes. O ser humano precisa de novidade e eu sei que até mesmo os mais conformistas tem sede pelo desconhecido. É por isso que eu amo a surpresa das incógnitas, talvez por isso eu seja tão propensa à imprevisibilidade, e, às vezes, essa minha inclinação à mudança acaba comigo.
Apesar de parecer conjecturas de uma cabeça feminina e geminiana e por isso a complexidade do pensamento, acredito que seja mais fácil de entender do que aparenta. Eu acredito muito no poder dos detalhes e creio que a chave de tudo está neles. Mesmo eu não sendo muito simbólica, consigo perceber que são as iniciativas, aparentemente, mais irrelevantes que elevam ou diminuem os sentimentos. Porque eu sei que depois de um tempo a dificuldade de inovar-se cresce e mesmo com o fortalecimento do amor, o encantamento pelo outro vai estagnando aos poucos, e... é disso que tanto temo, penso que não consigo viver sem o deslumbramento, sem o êxtase contínuo da paixão.
Às vezes parece que tem um lado meu que deseja desenvolver uma espécie de indiferença, que de fato quer que eu esteja disposta a alimentar e saciar esse vício, sem que isso interfira no outro lado... É tão sombrio... e é egoísta também, mas parece ser menos errado quando me coloco num plano de raciocínio isolado, no meu plano de raciocínio, sem maldade, porque assim é minha lógica! Ingênua. Eu realmente acredito na bondade das minhas atitudes erradas e eu, definitivamente, nunca tenho a intenção de brincar com ninguém. O egoísmo existe no instante em que eu, mesmo sem o menor intento, permito o envolvimento para justificar ou testar minhas teorias, sabendo que o outro não acompanhando minha mente doentia, acaba se machucando de qualquer modo. É como se eu sempre tivesse a esperança de dar certo, de fazer minha doce e hipnótica ilusão ser dividida e depois somada, na esperança de encontrar alguém que faça dar certo sem anular meus efeitos.
É muito estranho tudo isso... eu sei. Espero conseguir organizar melhor o que se passa em mim. Espero que dê certo um dia.