A escolha

Hoje talvez, depois de muito meditar, já não estou de todo convencido se fiz no momento a melhor escolha. Ao optar pela aposentadoria, sendo que ainda poderia por alguns anos trabalhar sem que isso me prejudicasse em nada, vejo-me diante de um fantasma que para mim só existia na mente dos aposentados, o fantasma da apatia, do sem nada para fazer.

Nem chegou ainda o dia fatídico, aquele onde você recolhe seus pertences em sua mesa de trabalho, olha em volta como que para memorizar os anos de muita luta, mas também de muita alegria, observa mais uma vez os colegas a desempenhar suas tarefas e já sente enclausurado. Cheguei a uma conclusão, liberto não é quem não trabalha, mas aquele que tem um ofício e faz dele um meio de ser feliz, de poder olhar de frente qualquer um e dizer: somos iguais por sermos trabalhadores.

Não estou menosprezando a maioria dos aposentados, pois dentre eles há os aquinhoados, que podem se dar ao luxo de viver viajando e esbanjando o que ganharam e ainda vão lhe sobrar muito, estou me reportando àqueles que precisam dividir a sua aposentadoria com o resto da família. É nesta fração que me enquadro, a fração dos que ao longo de toda uma vida dedicada ao trabalho, devidos a problemas alheios ao seus anseios, não conseguiu guardar o suficiente para uma aposentadoria menos árdua e dizer que está curtindo muito sem ter o que fazer. Mas mesmo assim a minha decepção não é total, pois, apesar de me sentir preso a uma sociedade onde quem aposenta é jogado às traças, me sinto orgulhoso de ter o dever cumprido com galhardia, com respeito e acima de tudo com amor pela profissão.

Posso até me sentir preso, mas um preso feliz de poder viver ao lado de quem amo e que me apoia sempre. O resto, isso a gente conta depois... depois da chegada da aposentadoria real.

ChangCheng
Enviado por ChangCheng em 09/12/2012
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