Sobre o Fim do Mundo
Será mesmo que o fim do mundo se dará neste ano?
Independente da veracidade deste acontecimento seria interessante que a humanidade pudesse aproveitar este momento para refletir e findar alguns maus hábitos para que, acaso o mundo não acabe ele se torne pelo ao menos, um lugar mais ameno de se viver.
Provavelmente se houvesse mesmo a garantia de que o mundo fosse acabar em poucos dias quase ninguém teria como objetivo último correr para o shopping e passar seus últimos momentos realizando as compras que sempre quis, ou realizando as intervenções estéticas que mudariam seu formato para o visual dos “sonhos alheios”! Seria pouco provável também que as pessoas fossem perder estes últimos momentos navegando horas na internet, como fazem habitualmente, mandando recadinhos de que estão com saudades ou o quanto admiram alguém que está logo ali... na esquina!
Se o mundo fosse acabar por agora, talvez as praças e parques se tornariam hoje lugares pequenos para tanta gente tentando aproveitar suas últimas oportunidades de contatos com a natureza e com o próximo. As cachoeiras, rios e mares estariam lotados de banhistas que no dia-a-dia normal se contentam o ano inteiro apenas com a queda d’água dos chuveiros. Se o mundo fosse acabar por agora, certamente multidões iriam perambular pelas ruas e montanhas à noite admirando as estrelas, a lua e sentindo o ar fresco noturno. Iriam aproveitar também para escutar a voz da consciência e se permitirem a pensar sobre suas ações que normalmente são tão mecanizadas e ignoradas.
Se o mundo fosse acabar por agora muitos aproveitariam o hoje para pedir desculpas a alguém, aproveitariam o hoje para declarar um amor silenciado, aproveitariam o hoje para esclarecer o quanto aquele alguém os magoou e, ao invés de externalizarem, apenas se afastaram não deixando brecha para qualquer possibilidade de diálogo e recuperação de amizade.
Se o mundo fosse acabar por agora, as pessoas iriam correr atrás das últimas oportunidades de SEREM mais amigas, mais unidas, mais humanas, mais felizes... Mas, como não há provas de que este fim está realmente próximo, todos ainda continuam correndo atrás das oportunidades de TEREM mais dinheiro, mais roupas, mais apetrechos e menos tempo.
Este é o preço que pagamos por alimentarmos nossa vaidade! E como "Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma igual"1 vamos vivendo isoladamente, egoistamente, orgulhosamente, ambiciosamente... à espera de um anúncio fatal que nos faça abandonar às pressas todas essas bagagens que comprometem a leveza de nossa alma!
1.Trecho de Fernando Pessoa