Sobre medo e paixão.

Oito ou oitenta. Desistir ou encarar e então saber qual seria o resultado. De um lado, medo. Do outro lado, mais obscuro e ainda mais medroso, eu via o sentimento crescendo e se transformando em algum tipo de paixão involuntária. Talvez pelo coração vazio, pela intenção palpitando, pelo desnível entre querer e poder, eu nunca soube apesar de pensar muito sobre. Era desesperador ir se apaixonando, aprendendo detalhes, decorando os trejeitos, sem perceber, porque minha crença era sempre a mesma: aquilo acabaria e haveria lágrimas e dor no futuro. Eu sabia que dali a algum tempo estaria fugindo de músicas e lugares para não te encontrar em mim, e daria outros nomes para todas as coisas que me lembrassem você. Eu sabia... Quando a gente ama demais, sempre se reinventa mais de uma vez. A gente é a gente até se apaixonar e se reinventar, virar um encaixe, e se encaixar. Por fim, a gente vira dor e se reinventa para fugir disso porque é absolutamente indispensável seguir em frente, ser feliz, continuar escrevendo a história para ver como termina. Mas se apaixonar é entrar em uma rota que não tem fim, nem uma casa de madeira no acostamento do asfalto para servir de abrigo, é rodar mil vezes na mesma estrada e voltar sempre pro início, que você não sabe se realmente é o início ou o fim ou o meio. E eu, brinquedo da vida, já rodei... Gradativamente, eu fui ficando triste. Até que um dia, eu havia esquecido como se voltava a ser feliz, a amar, a se apaixonar outra vez. Era assim que eu me encontrava, envolto em medo e falta de fé, quando eu te encontrei, te conheci e reconheci nossos santos, nossos votos, nós dois, juntos e iguais. Éramos eu e você e esse tipo de penhasco que eu enxergo. Eu deveria ir, eu deveria pular e me apaixonar. Mas você foi embora antes do filme começar, antes da última nota da música, da última página do livro e eu fiquei ao pé da porta, como sempre, chovendo perto de mim, suspirando, esperando, o céu cinza... E a nossa paixão, se teve um começo, terminou bem assim: não foi eterna, não durou, mas deixou a saudade mais bonita.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 27/11/2012
Reeditado em 27/11/2012
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