Monólogo: as sociedades
Escrever, escrever, escrever até morrer. Eis a vida de um pensador. Por que estou aqui neste lugar? Se pudesse lembrar quem eu fui... Quantas vidas existem em mim! A similitude dos rostos, o trajeto do campo até a universidade. Quem eu fui, senão um filósofo? Sinto o peso das roupas, as carroças puxadas por cavalos, os banhos de chuvas no fim das tardes, quando terminava a aula de lógica. Que lógica é essa, a qual estou preso pela eternidade? Minhas idéias escritas por outros. Sei que não é plágio, acredito na comunicação através do inconsciente.
Outro dia, percebi olhando no espelho, outro homem que não eu, com barba e sem óculos, de olhos castanhos, usava paletó e um lenço branco no bolso. Intrigante! Que registros são esses? De quais épocas? Quando penso que me sinto um ser estranho nessa sociedade, penso também, que noutra, fui um sujeito respeitado e admirado por muitos. Então as sociedades mudam as perspectivas e seus conceitos transformam-se, paradoxalmente, na raiz dos males psíquicos. Eis aqui a sociedade dos alienados.