Desculpe a ausência

Desculpe a ausência.

Mas pelo tanto de caminho que tenho passado, sinto e vejo que tenho sido ausente de tudo

eu tenho sido ausente de mim

acostumei-me a não pensar

o que é mais fácil

pra não ter que sofrer a dor de pensar o que não devo

pra não sofrer a dor de não ter o que não tenho

pra não sofrer

apenas

no entanto eis que hoje

abobalhadamente sentado enquanto este avião plana entre os ventos

e chacoalha incessante

essa carne amorfa que descansa entre meus dedos

e enquanto Deus brinca de desenhar

icebergs nas nuvens

e pontes que levam ao nada

eu, aqui do alto

lembro

lembro

lembro

e dos teus olhos descem raios faiscantes

dos teus lábios, bálsamos para todas as minhas dores

e de tua misericordiosa presença ausente

laços se fazem novamente

e nos unem num eterno nunca

eu, carne inerte acordei

como lázaro de sua tumba

vem pra fora

e chamaste o meu nome

e em nome do amor eu vim

desce, pois, agora o teu olhar sobre o meu

e brilha e resplandece e reluz em mim

ó sol da minha existência

desce os teus lábios ausentes sobre os meus e me ama

com os olhos apenas

com os olhos apenas

Cacau Segobia
Enviado por Cacau Segobia em 13/11/2012
Reeditado em 14/11/2012
Código do texto: T3984648
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