ESPELHO

Existe tanto esforço para mantermos a imagem sobre o mundo cultivado na ilusão, como se o último minuto das coisas, dos seres e dos sentimentos estivesse findando, que o contato com a simplicidade das coisas banais somente vive no caderno das criaturas sonhadoras. Mas de que será feita essa imagem para custar tantos eventos de nossas emoções? Seria somente um recurso exterior para tirar de evidência outra imagem mais sutil, porém mais caprichosa... Diante do outro, qual destino daquilo destilado no íntimo, a prostração fácil do agrado ou a interrogação cruel do desconhecido? E nessas coisas pensava, certa tarde, ao ver diante do espelho a mística das três imagens: aquele que gera a ilusão de si, aquele que quer gerar a ilusão de si para o outro, e a ilusão do outro vista com a alma iludida de si.