Da vocação a interpretação
Dizia uma velha escritora:
" Se você ficou sabendo algo sobre minha vida e não foi pela minha boca, parabéns, sinal que alguém deve ter vocação para jornalista em nosso meio."
Nunca esqueci essa frase.
Ela contava-me sempre em tom irônico, banalizando as asneiras que inventavam a seu respeito.
Em seu meio, convivia com pessoas dos diversos tipos. Viajava muito pelo mundo, e generalizava opiniões, mas no seu íntimo queria atingir em cheio o alvo.
Era discreta. Não gostava de comentários de espécie alguma. Notícias sobre sua vida eram divulgadas pelas pessoas queridas, ou os jornalistas de plantão.
E quando recebia queixa de mágoas alheias pelo desafeto recebido, sentava em sua escrivaninha e escrevia sem parar, numa espécie de desabafo.
Algumas pessoas não entendiam seu sentimento traduzido no pensamento em letras. Então nestes casos, ela sugeria aulas de interpretação.
Além de escritora, era professora de português.
Nas horas vagas era conselheira das queixas alheias. Era feliz com o que fazia. Dali, muitas pessoas descobriam sua vocação.
Das suas instruções, descobriram-se muitos jornalistas.
Já muito velha aos 90 anos, morreu. Deixou um diário, onde contou sobre sua vida.
No final dizia:
Vivi muitas coisas, disse muitas coisas, e muitas coisas foram interpretadas ao modo de cada um.
Agora deixo a minha interpretação sobre isso...
O que você souber sobre minha vida, que não for pelas minhas palavras, pela minha boca... estarei certas de que outros jornalistas a descobriram sua vocação.
E neste tom irônico finalizou seu diário.
Interpretação é algo sério. Estudar é grandioso. Ensinar é divino.
***************************************************