FILOSOFACEANDO...

“Ninguém se perde. As pessoas escolhem caminhos errados. Então escolheram seus rumos, não se perderam. As pessoas escolhem que tipo de pessoas querem ser.

Assim como escolhem se vão dedicar sua vã filosofia aos ouvidos che

ios de frases de botequim... ou não. Se vão abrigar seus anseios em mãos que aprisionam ou em mãos que libertam.

Escolhem também os companheiros de jornada e, assim, o seu destino final. Se olharmos ao redor, para quem nos acompanha, saberemos como somos, o que escolhemos ser.

Podemos mudar nossa aparência, cortar os cabelos, ficar louro ou moreno, engordar, emagrecer...

Mas a alma, a imagem de dentro, reflete as escolhas que fazemos, os gestos nobres e os gestos vis, as verdades e mentiras que vivemos.

Lembro um texto que comparava construtores e jardineiros...

Construtores montam uma estrutura e ao final da obra nada mais se acrescenta, está pronta, estática, consolidada. Muda-se aqui e ali uma parede, uma aparência, mas é só a mesma maquiagem sobre o mesmo rosto. Construtores preocupam-se com suas fachadas e cuidam que exista um lugar discreto para o lixo, na área dos fundos. Um quadro bonito sobre a parede manchada. Cuidam para que não seja nunca aberta aquela janela emperrada. A casa abriga, mas também aprisiona, limita. Para

ser construída, ela se impõe ao espaço que ocupa. O chão será apenas parte da casa, sem outra função que não o de base para que a casa se mantenha de pé. E uma vez de pé, a construção está pronta.

Jardineiros examinam e preparam a terra, sentem sua textura, arejam seus torrões, escolhem as sementes, estudam a posição do sol, o calendário das chuvas... e plantam. E esperam o broto, o ramo. E todo dia providenciam um apoio para que cresça plenamente. E tiram as folhas que secaram para dar espaço para novos brotos. E dia a dia, acompanham a formação do jardim... O jardim nunca está pronto, sempre estará crescendo, brotando, florindo, frutificando, secando, alimentando o chão com sua morte e renascendo.

Poderíamos, a grosso modo, classificar as pessoas assim, em sua forma de amar e viver.

Alguns são como construtores, criam uma imagem pública, adequada, conveniente, mensurada e controlada, fazem todos os cálculos... Constroem e mantém o resultado final, estático. Empilham pessoas, posses, conhecimento, afetos como tijolos. Nada pode sair dali, nada pode abalar a construção, trincar-lhe as paredes...Outros são como jardineiros. Jamais terão um dia de descanso, de acomodação. Porque todo dia é dia de regar, limpar, plantar novas coisas, promover a vida nos canteiros. E o jardim responde, expande-se por onde bem quiser. Mesmo as podas, os cortes, as amarrações, tem um justo propósito de expansão e reforço. É uma arte de risco, o jardim pode morrer pelo excesso de sol, de chuva, ou pelo descuido com as pragas... Mas nada que a primavera não resgate pelas mãos do jardineiro, que pode sempre recomeçar a partir de um torrão de terra, um pouco de água e uma boa semente.

E a casa? A casa fica bem melhor amparada pela beleza de um jardim que lhe esconda e compense as feiúras. Sendo supostamente o ponto de referência da área, deve o jardim pertencer-lhe, limitar-se a ela.

Bem, mas um dia a casa cai...”

(Anna Wurlz)

Anna Wurlz
Enviado por Anna Wurlz em 05/11/2012
Código do texto: T3970298
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