Provocação
Tenho entrado num túnel atemporal, não do tempo, porquanto posso revisar minhas escolhas sendo quem sou hoje que é diferente de ontem. Mesmo que não haja diferenças com o eu de ontem; afinal o que mudou foi o ângulo pelo qual se vê o mundo que me cerca. E no final só terei a convicção de que mudei porque reivindiquei, todo dia, meu direito de ser na abertura ao ser do outro.
Nascemos despidos, no seu mais abstrato sentido. Não temos domínio da linguagem para comunicar, os sons emitidos das palavras parecem sons vazios, como já dizia Vygotsky. Pouco a pouco vamos aprendendo a falar e o significado do que falamos. Introjetamos toda uma cultura que estava lá antes que nascêssemos. Seguir padrões, porém, muitas vezes nos frustra porque não é o que esperávamos para nossas vidas e, também, porque exterminam qualquer razão especial para a própria existência quando as construções sociais estabelecem como e o que viver. Engraçado torna quando nos flagramos tentando entrar numa fôrma que não condiz com nossas próprias expectativas. Posteriormente passamos a compreender que nossa forma não é tão problemática como julgam quando não nos encaixamos na fôrma. Antes, são as fôrmas que não respeitam as diferenças e as opressoras que exigem todos iguais, de tal maneira que nos escravizam a ser, em detrimento do aprender a ser. Quiçá seja só um árduo caminho de descoberta a disposição de todos, mas apenas alguns flagram. Por ora, talvez, não temos coragem suficiente para desbravar nosso próprio caminho que não sejam aqueles que engolimos desde que aprendemos a falar. Quem sabe não se trata de uma disposição natural para nos maturarmos com as mais variadas singularidades...