CAMINHAR
" -A vida continua!", ou " -A vida tem de continuar!". É o que ouvimos logo em seguida dos acidentes da vida. Não quero pensar em sua continuidade, como se esta estivesse ligada a nós e no momento de determinado fim, (sim, porque tudo se encaminha para isso); seja ele de qual natureza ou ordem for, de certa maneira, a vida é emperrada. Penso que não. A vida independe de nós, ainda que não possamos pensá-la sem nossa existência. Se é assim, então o que segue não é a vida, mas nós. A cada momento que precede aquela afirmação, tal qual um parto, nasce vida em nós e nessa sucessão a vida se refaz em nós, dilatando o olhar e firmando-nos no solo onde nos sustentamos, mas não simplesmente permanecendo, estático; sim, em movimento. Tenho pensado muito em caminhos, em percorrer caminhos, também tenho pensado que a ideia de caminho pressupõe sempre a existência de um que devemos percorrer a fim de... O que tem me inculcado, não é a existência de um único caminho, nem de outros, ou vários deles, não! Tenho pensado que há o momento do caminhar. E isso é diferente de se trilhar caminhos, porque se há caminhos para seguir, também há os descaminhos, os meios caminhos e se é assim: há sempre a possibilidade de se estar perdido. O que não ocorre quando se pensa no caminhar, e neste caminhar construí-lo, sim! o nascimento da vida que vem à luz no ato de mover-se em frente, qualquer frente, porque se caminhos não há, não há horizonte pretendido, mas o horizonte que se avista quando se olha para ele, quando se caminha. E se é assim: cai por terra a afirmação de caminhos tortuosos. Não os há. Eles não existem. Há o difícil, porém a dificuldade não é do caminho. É do caminhar. É do caminhante. Ora ele pisa firme, ora em falso, ora desliza..., mas ainda assim ele constrói. Quando assim penso: penso em Drummond e Pessoa.
Levando e sigo... Rumo, não ao desconhecido, mas ao que estou por construir.
Wérlen M. dos Santos
29 de outubro de 2012.