NOITE DE PRIMAVERA
A noite já tinha despertado, o coração da mulher já tinha asserenado. No sereno, a lua já tinha se instalado. Do brilho das estrelas o universo já tinha conspirado a favor daquelas palavras que saiam da sua sala de visitas. Ao som da flauta doce, inspiração lhe devolvia alegria.
Que mais importaria?
Tudo o que ela quis dizer foi dito naquela noite.
Parecia que um mantra a conduzia.
Estava completamente relaxada, molhando os pés naquela água límpida, sem acordar os pássaros, que se alojavam nas árvores próximas dali.
Uma noite em que a flora acompanhava o desabrochar de uma nova roupagem para as flores de várias espécies, germinando o requinte das estradas, pareciam compor uma moldura no asfalto.
Então, a mulher deslizava a mão naquela tela e, por meio da sua pintura, as cores que lhe encantavam já tinham despertado o seu coração, pincelando aquela arte de emoção.
Parecia que os raios da lua inclinavam-se para as suas mãos, recepcionando a renovação dessa estação.
E a flauta doce deu lugar aos pincéis nas mãos calejadas, feito as mãos dos trabalhadores do sertão.
Mas absorviam as tintas que compunham os seus quadros. Descrevendo caminhos e flores belíssimas, enraizando o seu bom gosto nos tecidos das telas.
Cantarolando uma música, a mulher de pele sensível conseguia reproduzir a sensibilidade das pétalas, revelando flores belíssimas, enraizando o seu bom gosto nas telas, trazendo a semente dos mais belos jardins fictícios.
Mas tudo o que pensava em reproduzir ela mostrava por meio das suas pinceladas, que brotavam da sua aquarela.
No desabrochar de uma roupagem nova para a sua tela mais recente, parecia que esta vinha mais perfumada, por saudar a estação.
Aquele quadro na varanda podia absorver os primeiros reflexos da lua.
A luminosidade da lua felicitava o despertar daquela tela, intitulada noite de Primavera.