Não sou todo feito de pedra, de pedra mesmo é apenas o meu coração
Talvez, por ter que começar a trabalhar muito cedo, aos dez anos de idade, mas não pensem que era trabalho escravo, não, não era, até mesmo porque não fui impedido de ter aceso aos livros e aos bancos de uma escola, era cultura mesmo, um meio de economizar mão de obra e sobrar um pouco mais de renda à família, e, além do mais, carinho e amor filial nunca me faltou. Talvez, por ter passado a infância e a adolescência um pouco afastadas de um convívio social mais abastado. Talvez pela minha enorme timidez que ao crescer foi se distanciando. Talvez, pelo meu sempre ausente sorriso, talvez...
Talvez seja por isso que passei boa parte de minha vida mais conhecido como o homem de pedra. Jamais viam um lágrima sequer rolar em minha face, seja em que ocasião fosse, quem me visse diante de uma enorme tragédia, agindo com a maior naturalidade, deveria pensar, Ele não tem coração ou se tem é de pedra, aliás, essa frase ouvi diversas vezes, e nunca demonstrei nenhuma preocupação aos falatórios.
Mas é como dizem e como dizem a verdade: quem vê cara não vê coração. No título disse que apenas o meu coração era de pedra, mas o que realmente eu gostaria de colocar ali era: o meu corpo pode ser de pedra, mas o meu coração jamais foi. Na verdade o meu coração é de pedra sabão sabe? Aquele que se derrete apenas no apertar. A diferença entre nós, a pedra sabão e eu, é que eu me mantinha firme diante de todas as situações que me emocionavam, para depois afastado e só, desabafar num choro silencio, numa prece aos desvalidos ou até mesmo, chorar apenas para aliviar tudo o que havia sufocado dentro do peito. Muitas vezes temos que nos fazer de forte, para podermos levar confiança a quem a perdeu, esperança a quem a busca, alívio a quem dores está sentindo, daí procurar ser rocha bruta quando preciso for e pedra sabão, quando escondido estiver. Um bom fim semana a todos.