O AFÃ DO POETA


O poeta tem pressa. Observa a vida a fluir como
um rio que jamais retorna à nascente.

É um coração esvaziado, e se não insistir em
percutir como o bumbo não será capaz de sobreviver.

O poeta vislumbra a vida pretérita. Antecipa-se
aos eventos. Não afasta as desditas, devora-as.

No afã de ter seus anseios manifestos o poeta
arquiteta o universo tão harmoniosamente como
se pretendesse fazê-lo dele seu paraíso.

O poeta organiza seu dormitório em desespero. Faz
do abrigo a caverna que vai cair sobre sua própria
cabeça.

O poeta tem pressa. No apogeu do afã classifica
os pergaminhos em que expressa as ideias, exprime
as palavras em alto relevo e sepulta-as no baú de sua alma.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 24/10/2012
Código do texto: T3949797
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.