Compadecer...
Beira um ar de inocência em quem compraz com o crime “útil”. Útil? É! Parece haver um ar de inocência em relação a tudo aquilo, um ar de alívio pelo sucesso de uma missão obstinada, uma missão para o bem de uma humanidade restrita, seleta. Confortáveis em nossas salas de estar, em nossas mesas de jantares, em nossas poltronas acolchoadas, em nossos sofás aveludados, nos orgulhamos dos reflexos de nossas aquiescências vis, de um mundo tal qual nos é condizente com nossa compreensão assassina. Aquela realidade parece não me dizer respeito! Porém, sofro dela. E estamos, no mínimo, iludidos ao acharmos que dela estamos apartados com o simples fato de termos câmeras e cercas elétricas instaladas em nossas casas.
E então, porto-me como um juiz pronto para julgar e trucidar o que não é digno de minha compreensão intolerante e assassina. E para tanto, a nossa amiga mais fiel (?) do dia-a-dia, a TV, cospe imagens e verborragias pragmáticas de ordem e justiça a qualquer preço, a qualquer custo, a qualquer vida. Telespectadores do massacre diário, consentido e assistido. Vivemos esse desejar viciante e alucinante, diria frenético, em um ritmo de vida sufocado pelo ódio e pela insanidade. Vide o jornalismo de cunho policial, ou programas onde os heróis do sistema são normalmente os policiais perseguindo pobres, moradores de favelas, ruas, sem-tetos, os sem-nada. Pasmem, perseguem quem luta por direitos, por reparação de injustiças, movimentos sociais, o sistema criminaliza quem luta por direitos!
Alguém precisa morrer para respirarmos aliviados, essa sentença parece ser a tônica. A todo tempo, esse alguém é fabricado e noticiado, noticiado e fabricado para sustentar uma lógica ilógica de sempre afirmar aos expectadores de um mundo cão de que o sistema funciona (?). A eterna chacina vivificante nos compadece com aquilo que é morte e incompreensão.
Somos cúmplices? Somos vítimas? Somos o quê? Somos inocentes ante tudo aquilo, que estupefatos vemos? Creio que não. Dependendo da nossa posição social dentro desse sistema, somos mais cúmplices do que vítimas.