Ilusão perdida (sob o pseudônimo Mikaela C. Silveira)

Monstro! A palavra gritava-lhe na escuridão. Monstro! Talvez mais assombrosa que a negritude da noite. Monstro! E mais uma vez a palavra rouba-lhe o sono e o sossego.

Nunca esqueceu aquele dia, apesar de não recordar o motivo ou até recordar mais esse ter ficado tão ínfimo que perdeu-se na nebulosa massa cinzenta de sua memória. E no final só ficou a certeza: sua mãe a odiava. Isso era um fato, nada poderia fazer para mudá-lo. A verdade é que já não interessava. Se ela lhe odiava, a odiaria de volta e tudo bem. Mas não. Não ficou tudo bem. Ela queria ter aquele amor, aquele olhar orgulhoso e admirado, aquele olhar feliz. Só que ele não vinha e no final contentou-se a enviar de volta um olhar amargo, de fel tal qual sua alma.

E por um tempo foi vivendo assim, convivendo numa casa onde a indiferença era a resolução mais plausível para a manutenção da paz conciliatória intrínseca na mudez das conversações sem emoção.

E por um tempo isso realmente foi bom. Pois apesar de tudo tinha o pai. Aquele homem turrão, que nunca lhe dissera eu te amo, mas demonstrara a todo instante esse amor. Aquele cara de raras ocasiões, em meio a tanto trabalho e viagens, mas que nessas poucas ocasiões preenchera o coração da jovem durante longas noites de desespero.

Amava-o era certo e esperava que ele tivesse compreendido em meio às palavras não ditas do acordo mutuamente selado. Mas talvez ele não tenha compreendido. Ele se foi da pior maneira que poderia ter ido: a abandonara. Simples e rápido e dolorosamente assim. Solidão... É tudo o resta no caos do coração depressivo da jovem mulher insegura.

Hoje ela já não confia, não se entrega, não crê em ninguém. E não perdoa, apesar de morrer a cada instante com as gotas de rancor injetadas lentamente em seu peito.

Não sei se você conhece essa menina triste. Se você é essa menina triste. Eu só sei que essa menina triste poderia lhe fazer imensamente feliz se conseguires transpor a muralha à sua volta. E talvez essa menina triste venha a perceber que a felicidade não é um sonho perdido, mas uma realidade alcançada.

Vany Soares
Enviado por Vany Soares em 17/10/2012
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