Dos Monotemas aos Anátemas
Pregos rasparam este vidro até que letras fossem formadas e transmitissem essa idéia arcaica e rupestre de que idéias devem ser transmitidas. As luzes das lojas e os letreiros dos bancos transpassam essas palavras ilegíveis e idealistas e se instalam nos meus olhos. Não estou aqui, aqui estando. Um ovo voa e se espatifa diante de meus olhos. A revolta e a sujeira estão lá fora. Nas esquinas e nos rodapés dos postes. A cada igreja que vejo, vejo sujeira. Não estou aqui, aqui estando. Se pudéssemos abocanhar as memórias que ficam incrustadas no passado, de lugares onde estivemos, com pessoas que perdemos... Soluço pelo passado ter-me sido um presente; soluço, por cada segundo, e por cada segundo subseqüente, o presente me ser indecente. Amígdala latejante, sono pungente, febre pulsante: assim sigo dentro do ônibus que pula, no caminho de sempre de outrora, na estrada da amargura que me leva ao lar que não tenho. Enquanto minha capacidade expressiva seca feito mods cheio na pilha de papéis higiênicos usados. Enquanto sei que sigo um caminho sem volta dentro de mim; enquanto sei que essas veredas de veleidades hão de desembocar no embotamento; que o fim dessa capciosa estrada é o fim da picada. Dos monotemas aos anátemas.
16/10/2012 - 20h35m
The Sea and Cake - Harps