9° C

Quando encontrei Cida pela primeira vez o frio era intenso na cidade. Principalmente na minha cabeça. Me recordo com precisão da sensação térmica, pois, no momento, Cida dorme com dois cobertores ao meu lado. Enquanto visto uma toca machu-pichu e luvas de algodão, sentado o mais próximo possível do aquecedor.

Sei de homens que lembram-se da cor do vestido que a amada usava quando se conheceram, da canção que rolava, do que ela pediu pra comer, e até do jeito que ela tragava o cigarro. Mas ainda não conheço um que tenha a temperatura do clima gravada no dia em que conheceu a mulher da sua vida.

9°C marcava o termômetro do ponto de ônibus. Sei que há níveis de frio bem piores, e que em São Paulo isso é bastante comum. Mas a questão é exatamente essa: o frio. E o frio me lembra a paixão por Cida, que começou gelada mas hoje inflama. E Cida me lembra chá, edredom, filme, risada, preguiça. As lembranças sobre Cida sempre voltam à tona no frio.

Mas voltando aqui pro lado do aquecedor. Não seria má ideia sair dessa cadeira terrivelmente gelada e me enfiar ali embaixo com Cida. Sentir o calorzinho da sua respiração, bem de perto. E o calor de outra coisa, mais desejada ainda. E que também deve estar quente. Mas isso agora não é permitido mais.

Didier Peroni
Enviado por Didier Peroni em 16/10/2012
Reeditado em 20/05/2013
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