Instruções de como escrever, de Julia Cortázar.
A atmosfera do ambiente é foi um fator importante para a escrita. Não pode ser ácido demais nem tão pouco adocicado. A medida exata é o equilíbrio. E esse equilíbrio forma a ponte que guia as idéias para o papel. A música ao fundo, que tem a obrigação de sonorizar com seus pensamentos, a perfeita organização do local, para que não se junte a desorganização de sua mente e suas idéias que pedem fervorosamente para sair, e a calma, que tem que se sentir livre para percorrer a ponta do seu dedo até os seus fios de cabelo. Assim, simples. Depois disso só falta um detalhe: A sinceridade com que exprime as palavras. Por que se tentar subverter suas idéias originais, perceberá que seu texto não será nada mais que umas tantas palavras amontoadas sem essência, sem vida.
A escrita consiste em ter o poder de dar vida a algo inanimado. Quem pega um lápis e um papel se torna um deus. Alguém que tem um mundo na mão. Com suas fantasias, seus desejos, seus medos, grafados da maneira que desejar, ao seu dispor e deleite.
Mas é claro que todo esse pensamento metódico não funciona para todos. Alguns preferem escrever ao ritmo do vento, que não faz um curso pré definido e não necessita de equilíbrio.
Preferem, a esmo, jogar palavras e juntá-las no final.
O modo que se escreve, no final das contas não é o que importa, o produto final que conta.