Planejamento e controle de nossas vidas?

Entendo como muito marcante a percepção que tenho, o que me parece natural, de que porque procuramos ativamente ter o controle sobre cada momento realizado em nosso viver, possuímos assim o controle sobre nossas vidas. Acreditamos que com planejamento, organização e acompanhamento, acabaremos sendo senhores de nosso dia a dia e passaremos a ter o controle de nossa existência, como se pudéssemos assim dominar o timão de nosso destino, e ter as rédeas de nosso porvir firmemente empunhadas.

O que esquecemos é que o número de variáveis e inter-relações que diretamente afetam nosso presente é absurdamente grande. Eventos que sequer desconhecemos que ocorreram ou estão ocorrendo podem nos afetar direta ou indiretamente. A complexidade do realizar nosso presente é transpassada por uma rede monumental de fatos e efeitos que se somam, se transformam ou se aniquilam, com causas de nosso presente, onde a parcela das causas que conhecemos é apenas uma ínfima parcela do total de possíveis causas globais que nos afetam.

Isto posto, não existe planejamento capaz de dar suporte completo ao nosso viver. Nossa percepção é limitada, nossa mente é também limitada quanto ao processamento que é capaz de realizar, nossos sensores biológicos ou eletromecânicos, são falhos em abrangência e em variedade. A complexidade é tal que não existe solução global capaz de unificar e propor uma alternativa ótima para nosso viver, e para piorar a aleatoriedade de diversas ações, atitudes ou mesmo de diversos eventos, mesmo que probabilísticos, impossibilita qualquer modelagem lógico-matemática para prover algum ótimo planejamento. Assim, jamais seremos senhores de nossos atos, como aliás jamais seremos também conscientes de tudo a nossa volta e de todas as possíveis causas e eventos, e nem mesmo jamais seremos conscientes do tudo e do todo que somos, do que pensamos ou do que fazemos.

Isto não é motivo para não sonharmos, para não planejarmos, para não tentarmos algo que desejemos, isto é tão somente motivo para não nos culparmos diretamente por não termos conseguido, e principalmente para não responsabilizar os que sofrem, como se fossem eles os culpados diretos pelo seu sofrimento, pode até ser que alguns sejam diretamente culpados pelo presente de sofrimento, mas muitos não são em nada culpados pelo que lhes acomete agora. Provavelmente duas pessoas agiram da exata mesma forma, e para uma delas a vida foi-lhe grata pelo acaso, sorriu pela aleatoriedade de muitas coisas, e fez-se benevolente e farta pela simples sorte de ter como resultado a resultante de causas, muitas delas desconhecidas, e onde para o outro ser humano a contingência incontrolada por si só fez-lhe um sofrido vivente.

Sonhar é bom, é livre, e secreto, devemos ter sonhos, eles são uma espécie de mola propulsora para nos dar coragem e força, são capazes muitas vezes de nos retirar da inércia do nada fazer, do nada tentar e do nada querer, mas não podemos sofrer se não chegarmos lá, no fundo depende um pouco de nós mesmos, mas depende muito da resultante de todas as causas globais, externas ao nosso controle.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 15/10/2012
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