MENTE. FILOSOFIA. VIDA. MORTE. E UM GRANDE E ÚNICO AMOR
 
     Mente. Filosofia. Vida. Morte. Que são? Sob a minha estante há tantos livros e a tão poucos li. Alguns me causariam indigestão decerto. Também escrevi livro publicado e outros não. Lembro-me das primeiras poesias descobiçadas. O sabor era de um sorvete no calor do dia, degustado por uma criança feliz. Lembro-me de como voei fertilmente pelo Universo desmontando a equação einsteiniana, contestando-a e ousando fazer uma nova que a tudo contemplasse. Lembro-me de como tracei cada pedaço de um novo Universo em letras frias de muitas páginas: do Big Bang ao fim de tudo, passando pelas imensidades todas. Lembro-me dos dois livros escritos na adolescência, perdidos já há tanto tempo, mas intensamente vividos na narrativa imaginada. E os poemas? Tantos fiz e perdi. E tantos ainda faço que me perco em devaneios. Mas o que seja isso senão de mim fosse? O que seja isso se tecnicamente apenas fosse? Expor sem ousar ser compreendido. Falar ao vento e às nuvens. Lançar ao abismo. Que importa? Gritei. Chorei. Sorri. Soltei ao vento, mas não sei para onde o vento soprou.
 
     Li poemas anônimos e vi emoções em textos perdidos. Li poemas grafados em belas capas e vi emoções ou não em textos contemplados com edições. Onde reside a intensidade? Na evidência ou na sombra onde gritam sufocados os transeuntes da grande avenida?
 
     Acima há imensos cartazes com propagandas instigantes. No submundo há um almoço simples e convidativo. Deixo de ir ao shopping usando meu terno único e a tempo esquecido num canto do guarda-roupas. Visto uma camiseta e uma calça jeans. Agora estou melhor. Como era bom aquele chá na casa de meu avô. Simples. E como ele era um grande filósofo analfabeto. Imensidade desconhecida. Um passador desconhecido. E ainda que os letreiros brilhem acima da grande avenida, a quem conheceu a verdadeira força da humildade e sabedoria, é de direito saborear o chá, e a comida simples, em companhia das risadas inocentes e da sinfonia mental sem antessalas, onde se preparassem algum espetáculo qualquer. Paz.
 
     Vou a meu canto. Isolado em meio a uma planície que parece ser todo o mundo. A caminho chove mansamente. Bem sei que nessa hora uma criança chora e outra sorri. Alguém ama e outro amarga perda da amada. A mente pode ir do céu ao inferno em segundos. A vida exige seu preço. É alto. Como dizia Jean Paul, o amigo que me desconhecia, escolher é também manter um universo de escolhas outras, em si. Vejo dores imensas agora. Piso um chão frágil, tentando levitar.

     O carro desliza a obedecer a meus comandos. Mecanizado e frio demais para contestar. Irrazoável. Talvez seja a única coisa que me obedeça em algo neste momento. A terra sob o céu carregado de cinzas mortas se encharca de sangue de tempos e vidas tantas, passadas e vindouras. O momento parece um fragmento de eternidades vivas e mortificadas em lembranças, muitas das quais sem origens. Talvez vazadas de possibilidades e origens desconhecidas.

     No caminho seguem lágrimas a caírem lentamente do céu. E das árvores. E das flores. E das casas sob as quais se festejam ou se lamentam seres em cenas não contempladas. E o chão reclama tais lágrimas em sangue para se suprir da capacidade para dar a vida.

     Exala um perfume celestial onde o sol agora se esconde. Há um relance de cores indefinidas e invisíveis. De minha mente soam pensamentos como soaram as notas musicais nas composições de Mozart ou de Beethoven. Mas ninguém os irá me ouvir, nem os irá contemplar. É possível que esse momento tivesse mergulhando a Friedrich Nietzsche a uma incursão louca pelas letras.

     O mundo é vasto e estou eu a pintá-lo com infinitos mundos vastos. O pé na loucura é um grande risco a mim. A absorção é delirante. Uma injeção de drogas nas veias, porém com um poder de ação imensamente superior. Energia potencializada, liberada em momentos. A mente é uma represa despreparada para tal. Equilibro-me em cima de uma imensa montanha, tentando olhar aos lados, sabendo que o desequilíbrio pode me levar à morte.

     Mas eu olho. Vejo a terra sedenta pelo sangue que cai em forma de lágrimas. O rio corre agitado com as gotas que caem. Os homens também correm agitados com as chuvas que caem. Sempre chove em algum lugar a todo tempo. Sempre chove fora. Sempre chove dentro. Chove em toda parte.

     Ao chegar naquele canto esquecido na grande planície inabitada, sob a fina chuva, a solidão faz-me transcender e palcos tantos que já me deixo de ser. Gosto dessa solidão, não nego. Apenas sei do preço a ser pago. Sou e não sou. Luto. Não sou. Melhor talvez fosse um mundo cheio de seres. Falam. Quando falam, não penso. Se penso, vomito, viro o monstro e me transformo no salvador. Contemplo dores que fariam a muitos dobrarem os joelhos e sinto regozijos que de muitos desejam, sem os poder ter.

     O verbo aprisiona. Não há espelho em meu canto esquecido. Fora do contato vulnerável de todos os homens, o meu mundo se esconde. O meu mundo são vários mundos. Infinitas possibilidades. Milagres incabidos. Todas as portas podem ser abertas ou fechadas. Todos os caminhos podem ser instantaneamente caminhados ou não.

     O vento sopra. Quântico. Descontrolado. Agressor de meu ser. Aceito o vento como a criança que recebe o carinho da mãe, ao adormecer. O coração se agita com um barulho. Há uma presença forte na imensidade minha. O mesmo vento nos toca simultaneamente. Como a quero junto a mim! Somente junto a mim, num amor louco e inteiro nesse canto esquecido do mundo!

     O olhar dela parece buscar algo distante. Meu destino será ficar só na planície vasta?

     Estrelas brilham desordenadas em minha mente e confundem mais minha visão.

     Meu amor está próximo. O vento me conta ao ouvido. Traz-me teu cheiro.

     - Venha! Sente-se comigo, minha amada! Esqueça o mundo lá fora! Dê-me a mim teu olhar e teu amor! Não deixe a porta bater e o sonho acabar!

     E então, se fui o escolhido, que importa o que haja lá fora, se os âmagos de nossas almas anseiam navegar juntas, no fulgor de vidas seguidas, mortas e renascidas, por todo o universo e por toda a eternidade?

     Péricles Alves de Oliveira
 
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 14/10/2012
Reeditado em 14/10/2012
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