Há Muito...


Há muito desisti de procurar sentidos para a vida. Acho que jamais os teremos, e quanto mais certezas adquirimos, mais longe estaremos da verdade. Talvez baste aceitar a vida como ela é: com tudo o que não sabemos ser, desejamos ser, aprendemos a ser.

 

A única verdade, segundo minha mãe, é que ninguém sai daqui vivo. Nada ou pouquíssimo sabemos sobre o viver, e menos ainda sobre o morrer.

 

Só sei que a vida vai ficando cada vez mais deserta, quando começamos a envelhecer. As pessoas começam a ir embora. As máscaras começam a cair. Nosso entendimento muda, nossos objetivos mudam. Chegam as crises existenciais. Talvez envelhecer seja como passar por uma segunda adolescência; só que, ao invés de adquirir conceitos e acrescentar traços à nossa personalidade, nós vamos nos despedindo destes conceitos e traços. Aprendemos a ser desnudos. E quem não conseguir, permanecerá pesado.

 

Mas uma coisa eu sei, sinto e vivo: envelhecer nos deixa mais confortáveis sobre nós mesmos. Já não tenho tantos medos. Aliás, medos, sobraram-me bem poucos. Sei que um dia serei eu a partir da vida das pessoas. Nem sei se farei falta ou não. E nem sei se fará diferença.

 

É que ando mesmo um tanto melancólica. Chata, mesmo.

 

Quando nos despedimos de alguém que está indo embora, despedi-mo-nos de tudo o que vivemos com esta pessoa, desde que a conhecemos: cada risada, cada mágoa, cada alegria e cada tristeza. É como se o papel que aquela pessoa fez em nossas vidas estivesse ficando em branco. Sei lá, é difícil explicar. Mas fica uma outra coisa: uma essência que não entendemos. Uma ausência que é para sempre. As lembranças. A voz. As risadas. Tudo de bom e de ruim que dissemos e escutamos. E nos perguntamos: para quê? Se desde o início estávamos fadados à perda e ao afastamento, por que?

 

E ouvimos sempre a mesma ladainha, que nada nos acrescenta, e que em nada nos alivia: "A vida é assim mesmo." "Agora é colocar nas mãos de Deus." Que porcaria! Melhor nada dizer, quando nada existe a ser dito.

 

E eu me pergunto o que ainda estou fazendo aqui. E por que, meu Deus, apesar de tudo, de tanta dor e de tanto sofrimento, a vida tem que ser tão bonita, e essa brisa que sopra tem que ser tão fresca, e o barulho dos sinos de vento tem que ser tão mágico e encantador. E as nuvens pesadas e cinzentas passam no céu. Continuarão passando sempre. E um dia, o céu ficará azul de novo, e cinza outra vez.

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 14/10/2012
Reeditado em 06/11/2014
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