Sala Vazia

Sala vazia em dia de chuva. Luz apagada, música ao fundo. Páro, cruzo os braços e me perco diante da tela deste computador. Não sinto frio, nem calor, nem cansaço, nem vazio, nem fome, nem sono, nem...nada. Tudo vazio de lado a lado, do chão ao teto. Este pensamento faz eu me lembrar da época em que eu me sentia muito bem sozinha, onde eu pegava lápis de cor, papéis, canetas multicoloridas, e afins, e ficava num cômodo sozinha, por horas, eu e eu somente.

Vivia no meu mundo de imaginações infantis, desenhos mal desenhados, casinhas com apenas uma janela e uma porta, totalmente mal projetadas, mas nem por isso deixaram de ser graciosas.

Vivia no meu mundo onde cachorros não latiam, gatos não arranhavam os sofás, mas que me diziam muitas coisas, só pelo fato de me olharem e de me fazerem companhia, com todos os seus sons, cores e formas.

Mamãe chamava e eu não escutava. Encontrava-me perdida em pensamentos que nem sequer eu conseguia compreender, na verdade, não me importava se era dia, se estava chovento, se o tempo passava ou parava...pra mim, o relógio simplesmente não existia ou pelo menos, não tinha significado algum. Ele não era vilão, muito menos o mocionho, simplesmente era o que tinha que ser.

Era como se todo o resto não fizesse diferença se eu também não fizesse a diferença. Pode ser relação de mutualidade? Talvez sim. Na verdade, acho que tenho certeza.E é estranho pensar nisto agora, enquanto a chuva fustiga as janelas do meu quarto. Às vezes é resultado da solidão, mas não àquela a que todos se referem, que sentem-se sozinhos, mas sim, aquela que todo mundo tem POUCO, mas que nem sempre se dá conta.

E tudo isso só me faz pensar que "se dar conta" é a melhor coisa, ainda que pareça o contrário. Afinal, hoje para mim tudo é tão corrido, tão fugaz, que parar o se encontrar consigo mesmo é um momento muito rato. E quanto eu páro, me olho no espelho e percebo como tudo mudou rapidamente, como a vida me marcou e como estou mais bonita ou feia ou velha ou diferente, não importa. Não apenas por fora, mas por dentro também.

Me dei conta de que o mundinho de casas mal projetadas ainda existe sim, mas de uma forma diferente. Percebi que algumas pessoas passaram pela minha casa e brincaram com os meus cachorros, acariciaram meus gatos e também fizeram parte dos meus sonhos. Que solidão nada mais é do que um reencontro, um desabafo, todo um processo feito ao contrário, que só para tornar algo paradoxo, eu digo que pode ser positivo.

Basta querer que seja. E ainda que a música do meu piano me faça pensar em deixar este mundo por enquanto...prefiro ficar nele mais um pouco e aproveitar o que ele me oferece.

Nele...e em qualquer otro.

inthemoonlight
Enviado por inthemoonlight em 25/02/2007
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