Constatações de Janela de Ônibus
R: A gente sempre acredita que as pessoas mudam, aprendem e evoluem, mas essa crença é sempre posta à bancarrota.
R: Fia?
N: Que foi, neguinho?
R: Eu tive umas daquelas constatações de janela de ônibus e achei que você me entenderia.
R: Que tipo.
N: Hum... Conta!
R: O sexo, pra ser sexo, tem que ser (conduzido) por amor ou por uma pilantragem maior; ambas as coisas sendo o estopim pra algo que seja válido, forte; daquelas coisas que fazem com que a lembrança seja vívida e quase rememorada fisicamente.
R: Esses dias sem transa nem punheta tem me feito pensar que eu supervalorizo o sexo através de um pensamento projetivo.
R: E que o ato, em si, é puramente sem graça, quando não feito sob os dois prismas que eu citei.
N: Sim. Qualquer animal acasala. Os cachorros fazem até melhor que a gente.
N: A graça, pra mim, é conseguir penetrar com o corpo aquilo que já se vem penetrando com a alma. Seja por tesão, amor etc, como você disse.
N: É só poder tocar e fazer tornar físico o "sexo" que já se pratica em outras formas.
N: Sei lá, eu acho.
N: Tocar o que se projeta é muito bom. Acho que esse sentimento de completude é que leva ao orgasmo em todas as formas.
R: É estranho constatar o óbvio, mas às vezes ele fica tão envernizado...
N: E acho que é quando isso acaba que a coisa fode. Quando se sente que dali não sai mais nada, sabe? Que já se comeu a pessoa de todas as formas e ela já te completou com o que podia. E se o tesão é temporal, por que o amor (se é que existe) seria eterno? Às vezes sinto isso, mas passa. Às vezes é fome ou TPM mesmo.
N: Na verdade é chato constatar o óbvio. As coisas são tão complexas pra gente, que a gente acha que elas realmente tem que ser complexas pro resto do mundo.
N: Sim, é uma bosta.
R: Sabia que você comple(men)taria meu raciocínio.
N: (L)
N: Não que eu saiba o que se passa com você. Mas a gente é parecido. O que as pessoas passam a vida tirando de letra, nós passamos a vida sufocando com.
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