O HOMEM COMUM E O POETA
Eu creio na poesia, e sei que ela está nas coisas, em especial, nas mais simples, e que nem todo homem consegue visualizá-las... Antes é preciso ser filosofo poeta, ou poeta filosofo. Ter nos olhos alguma coisa de inquietante. Não aquela inquietude do homem que quer descobrir em tudo o Tudo, mas a de sentir no todo o mistério do Tudo, isto em cada mover de uma folha...
É certo que todo poeta é filosofo, mas nem todo filosofo é poeta.
Talvez eu me passe por orgulhoso, me pareça estar a se pôr (eu e os demais poetas) num ponto mais alto que o restante dos homens da humanidade. Mas, não é isto. Estou tentando um caminho para dizer o indizível...
O grande diferencial do homem comum ao ser poeta é que ele, o poeta, faz daquele poético. Os olhos do poeta são mais que intuitivos. Olhos que não são aqui meros órgãos responsáveis pela visão superficial das coisas.
O modo de ver a que o poeta é contemplado transborda o ser por completo, ativa todos os sentidos, ultrapassa, transcende a condição meramente humana.
Ser poeta não é ser simplesmente um escritor de fatos cotidianos, um construtor de poesias, mas uma condição livre da realidade. E é através dele, num parecer simples inspirar que o universo se revela em versos a grande essência da vida.