Pensei, mas preferia não tê-lo feito

Eu, prisioneira eterna de mim, busco cessar a culpa que me prende na carcaça inerte em que fui castigada a morar durante minha vida toda.

Quão fácil seria a vida se não tivéssemos que vivê-la. Sim, mais fácil pois nossas cegas e banais decisões erradas não refletiriam nossa falta de sensatez. Caso este que seria um raio de luz superior às nossas cabeças, superior às nossas convicções de dominar nosso destino.

Digo que, na verdade, somos todos apenas macacos imbecis que busca achar uma razão ou motivo para os conflitos do mundo, mas o que causa realmente tais desgraças é nossa discordância e arrogâncias mortais.

Pobre de nós, ratos que se dizem civilizados. Afinal, moramos em jaulas verticais que nem sequer o vento passa. Enclausurados ficamos, afim de tentar diminuir a violência no mundo. Mas, na verdade, apenas nos preocupamos e olhamos para nosso egocêntrico núcleo que fingimos ser bom.

Tenho pena de tudo. Pois a razão não mais rege esta carcaça, mas sim uma desfocada luz que restou da minha esperança que se foi junto com meus olhos juvenis .

Só rogo a Deus que tenha misericórdia deste mundo tão frio e isolado da razão, que esqueça as palavras odiosas que possam ter proferido a boca de algum filho Seu, que releve a doença da alma que o vírus da ambição causou em cada um de nós.

Apenas olhe pela sua janela e diga o que vê. O cinza cobre até aonde a vista alcança. O maldito cinza. Pois ele é quem domina o mundo. Nossas amadas cores vivas foram vendidas por míseros trocados de nós mesmos.

Então, reflita a si mesmo em que acredita e grite a todos, o mais alto que puder, para que algum ouvido gentil possa virar sua cabeça e olhar além. Além de si mesmo, além de suas belas paredes com quadros caros, olhe pela janela também e reflita. Assim, gritará, atingindo outros ouvidos, sucessivamente. Acho que essa seria uma forma de “salvar o mundo”, as pessoas parassem de reclamar porque o cadarço desamarrou e dessem graças por ter pés.

Eu, não mais prisioneira de mim, pois percebi que a culpa de estar presa a este corpo vão não é minha. Não devo me queixar, apenas aceitar o mundo do jeito que é. Pois muitos já tentaram mudá-lo, sem nenhum sucesso absoluto.

Continuo caminhando nesta rua asfaltada, em busca de um banco para me sentar.

Cansei de caminhar em vão. Acho que vou voltar para casa.

Donna R
Enviado por Donna R em 24/02/2007
Código do texto: T392189