Realidade desumana
Os que me conhecem, sabem que não creio em nada que possa estar relacionado ao sobrenatural, ao transcendente, ou ao místico. Creio na imanência real, creio na física e creio em tudo que dela emane: a química, a biologia, o mental e o social.
Não desejo ser um romântico e iludido reducionista, e muito menos desejo afirmar que possuímos hoje a capacidade de manusear a quase infinita complexidade dos status físicos e assim seria eu um estúpido se sequer tentasse imaginar que hoje podemos ter a utópica crença de que podemos explicar tudo pela física. Necessitamos de todos os ramos científicos, de todas as ciências, e cada uma delas em sua especialidade, para buscar entender, conhecer, e aprender ou mesmo refutar cada teoria, cada aprendizado, cada conhecimento, mesmo sabendo que em última análise, tudo se passa no nível físico.
Sendo materialista, não tenho a inteligência para crer em deus, no céu ou no inferno, mas se acreditasse em céu e inferno, uma certeza eu teria: Teríamos perdido nossa oportunidade de chegar ao céu, e estaríamos vivendo em pleno inferno.
Seria o inferno da fome, da miséria, do abandono, da exclusão, da estupidez, dos preconceitos, e da segregação. Seria o inferno da ganância, da prepotência, do fanatismo, da opressão, das vaidades, da usura, das posses e do poder. Seria o inferno das mentiras, das esperanças que iludem, e da hipocrisia. Seria o inferno da teatral caridade, daquela caridade com o que nos sobra, do que não mais queremos, do que nos é velho, e do que desejamos nos desfazer. O inferno da caridade com dízimos que enriquecem religiões e que empobrecem multidões, ou o inferno da caridade politica que enriquece ordens seculares. Seria o inferno da corrupção, da mentira e das vantagens espúrias.
Seria o inferno onde religiões mentem e competem entre si por mais seguidores e mais poder, religiões que enriquecem, que iludem e que buscam poder politico e econômico.
Talvez alguns de nós não estejamos nestes grupos, mas ainda assim outros de nós estaríamos do outro lado deste inferno. Estaríamos no inferno da omissão, do medo, da conivência, e da cumplicidade. Estaríamos no inferno da fraqueza de espírito, do aproveitamento, e da covardia humana. Estaríamos no inferno onde até mesmo o altruísmo tem interesses múltiplos. Seria o inferno dos colecionadores de bônus que desejam troca-los por algo melhor ou por alguma vida futura,
Mesmo se focemos feito a imagem e semelhança de um deus, mesmo assim teria eu mais motivos, se acreditasse em deuses e demônios, para crer que estávamos sim no inferno, pois que um deus que tivesse a nossa imagem e semelhança, seria ele próprio a imagem do próprio demônio.
Se mesmo assim, você é um daqueles raros que ousa se crer fora destas características, fico feliz por você, mas temo que você possa estar simplesmente se enganando ou se escondendo.