Amor ficcional
E ela lê sobre o amor, pensando que assim não precisa fazer, porque ela ainda não sabe, como se isso passasse pelo entendimento, que ela mesma sabe que não passa. Mas talvez seja medo, que ela nega e diz que é porque não quer tudo que ela quer. Ela é jovem e a juventude cria a doce ilusão que se tem todo o tempo do mundo e que ela não precisa fazer nada enquanto não tiver certeza, essa certeza que ela sente.
Falar assim não é tão fácil quanto parece e escrever é algo que ela acha muito pessoal e não tem certeza se deve mostrar ou não. Existe uma fluidez que vem naturalmente e que se não for assim não pode ser.
Enquanto ela escreve pensa falsamente que faz alguma coisa, mas o que ela quer mesmo ela não faz. E não admite a si mesma que é medo porque ela pensa que não tem nada a perder então faria se tivesse mesmo vontade, mas o que ela não percebe é que ela tem vontade e não faz, porque acha que não tem certeza, mas talvez certeza ela nunca terá e isso pode ser o refúgio do não-fazer em que ela se esconde.
Então ela decide que vai fazer porque não tem nada a perder e ela é jovem, e a juventude dá muitas forças, e ela também tem o jeito dela que é como uma artimanha e se ela não sabe ela terá que aprender a usa-lo, afinal ela é uma mulher e as mulheres têm muitas artimanhas, é o que dizem.
E quem escreve sobre ela pode ser ela mesma, ou a juventude que ela tem, onde está o seu não-fazer e suas vontades, e a força de poder ser tudo. De qualquer forma isso tudo é ficcional.