ENTRE AS PLANTAS ORNAMENTAIS E AS MUDANÇAS.

Hoje em dia está bem querermos respostas e esta situação lembra-me Mário Quintana em uma de minhas leituras. Refiro-me àquelas leituras pitorescas feitas na época de Universidade. Saudades da leitura de fruição...

Quintana escreveu: “a resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas”.

Aplausos!

Coincidentemente, cedinho, cedinho, enquanto vestia-me para o trabalho e assistia a um programa sobre a vida das plantas, escutei: “porque mudar as plantas ornamentais de local? Até as plantas sofrem modificações e algumas espécies precisam ser mudadas – de tempos em tempos – para que floresçam adequadamente e continuem exalando seus perfumes; para que continuem trazendo beleza ao ambiente onde estão!

O que a afirmação de Quintana tem a ver com este assunto? Vou explicar. Entendo que somos e temos fases assim como as plantas, conservando-se as peculiaridades de cada uma das espécies, claro!

Assim como as plantas, somos seres de épocas, de estações e requeremos cuidados de igual forma. Há quem diga que as plantas refletem o humor de quem cuida delas. O que sei é que, como seres vivos pluricelulares que somos, precisamos aprender a ouvir a nossa natureza individual assim como o fazem as plantas ornamentais.

Precisamos aprender a reconhecer quando as mudanças se fazem necessárias. Precisamos aprender a reconhecer o nosso tempo e, com ele, sabermos naturalmente a época de mudar, a época de florescer, a época de perfumar, a época de recolher, a época de mostrar, a época de guardar energias, a época de gastar energias, a época de ser, a época de ter, a época de compartilhar...

Somos parte do ambiente onde estamos e estando a sombra de Quintana, pergunto: “Até quando vale a pena florescermos onde estamos plantados? Qual é o tempo de floração no ambiente onde nos encontramos? Qual é o tempo de mudar nossa roupagem? Qual é o tempo de oferecermos novos botões a todos ao nosso redor?”.

Assim como as plantas ornamentais, podemos escolher ser ínfimos ou fazer a grande diferença no local onde estamos.

Como as plantas, não tempos local certo, endereço certo... Simplesmente chegamos e mudamos o ambiente onde estamos plantados com nossa beleza sutil, com nosso perfume...

Alguns escolhem a indiferença. Outros escolhem ser planta comum...

A verdade é que poucos, por natureza, trazem em suas folhas a beleza e o perfume da harmonia, da felicidade, da garra em ser aquilo que poucos conseguem ser.

Algumas plantas têm seu valor reconhecido. Já outras – de tão raras que são – só são reconhecidas por pouquíssimos especialistas.

Estes sabem reconhecer o seu real valor...

Assim como as plantas, precisamos saber o tempo certo de florescer, onde devemos florescer, para quem podemos florescer; para quais ambientes ou para quais pessoas devemos florescer, quais pessoas devemos perfumar.

Inicialmente, alguns locais combinam perfeitamente com o brilho e com o perfume de nossas folhas...

Inicialmente, algumas pessoas combinam perfeitamente com o florescer que nos é peculiar...

Mas a verdade é que poucos são os que merecem sentir nosso perfume: o cheiro que exalamos pelo perfume que deixamos pelos locais por onde passamos, pelas pessoas pelas quais passamos.

É preciso saber e conhecer o tempo certo de deixarmos nítidos os nossos botões florais, colocando-os nas mãos de todos aqueles que diariamente cuidarão de regá-los.

É bem verdade que há quem mereça o florescer de nossos botões. Mas há também quem não mereça contemplar nossa beleza e sentir o nosso perfume...

Mesmo assim, por natureza, exalamos e embelezamos a todos sem olhar a quem porque esta é a nossa natureza: a natureza das plantas, a natureza de quem simplesmente é.

Mesmo que haja pessoas que não mereçam o nosso perfume e a nossa beleza, obedecemos à natureza e exalamos o nosso perfume, fazendo brilhar os nossos botões, modificando, dia após dia, as pessoas e o ambiente onde estamos plantados.

Até quando vale a pena florescer onde estamos plantados? A pluralidade desta resposta pertence a todos já que a pergunta certa vale muito mais que uma resposta certa.

Questionemos certo porque é das perguntas certas que advêm as respostas que definirão quando devemos mudar para que floresçamos mais, para que perfumemos mais, para que outros contemplem e vejam e reconheçam intimamente o florir natural de nossos botões.

Carlos Maciel – Linguista e professor de Inglês.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 02/10/2012
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T3912416
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