MORTE: Literatura ou ironia
O escritor ou o falante que usa a ironia (< grego 'eirōneía': dissimulo ou ignorância fingida) procura exprimir-se de jeito que o leitor ou o interlocutor receba a mensagem cujo sentido seja justamente contraditório ou, pelo menos, contrário do significado literal da expressão.
Deste jeito o emissor, assim dizendo, tenta negar a realidade de que, à partida, comparticipa com o receptor.
A ironia, portanto, equivale a negação da realidade quer pela via da supressão ou eliminação quer pela via da sublimação no discurso (ou na narrativa).
Que textos literários são radicalmente irónicos? Em quais a ironia pode ser achada quase em estado puro? Fundamentalmente nos líricos: Que amor entre humanos, que amor à pátria pode cumprir numas circunstâncias de humanidade as condições cantadas nos poemas amorosos ou pátrios? Tenho resposta, mas acho que seja a mais própria: os textos líricos, qualquer texto lírico sobre qualquer tema, são radicalmente irónicos, quer dizer, negadores da realidade que "lirizam" e justamente por os "lirizar".