RELIGIÃO É ATRASO?
É facil ceder à insinuação do engano, pouco importando se isso decorra de má fé ou de ignorância, apenas.Postagens recentes em redes sociais defendem a idéia de que sociedades sem religião apresentam claras vantagens em relação a outras, nas quais a influência da religião é mais evidente.Via de regra tais textos ressaltam o aspecto supostamente anacrônico das sociedades religiosas como fator de atraso científico e social bem como elemento determinante de injustiças e opressão do indivíduo.A alternativa, por outro lado, é apresentada com exemplos de sociedades ‘sem religião’ onde a qualidade de vida é inegável.Inevitavelmente serão citados Holanda, Alemanha e países nórdicos, por exemplo.Ora, a sugestão é grosseira : se a religião é, de fato, um fator de atraso social, restringir sua influência seria o passo inevitável a uma sociedade que pretenda alcançar um novo patamar de qualidade, com indicadores aceitáveis e condições dignas a seus cidadãos.
Até que ponto, porém, essa visão corresponde a uma realidade?Qual a consistência dessa percepção que atrela desenvolvimento social a religião e a quem poderia interessar uma eventual intervenção dessa mesma percepção?
O discurso procura convencer por suposto teor científico e respaldo estatístico.Não há , contudo, novidade alguma nessa tentativa de associar religião a ignorância supersticiosa, tentar evidenciar que esse ‘mal’ é ainda maior que parece é apenas um requinte histérico não muito bem disfarçado.Daí a sugerir uma solução final como proposta viável é um mínimo esforço e todos sabemos como isso costuma acabar.Cumpre questionar qual a verdade envolvida nesse humanístico apelo.
O primeiro grande problema com essa mentalidade irreligiosa é estabelecer como definitivo que os problemas sociais de uma sociedade podem ser sanados ao se intervir na fé professada pela maioria da população senão mesmo extingui-la por completo, a sugestão está implícita.A levar a sério tal discurso, assume-se que os problemas na educação, segurança pública, de saúde e distribuição de renda são uma consequência direta da religião predominante da sociedade, o que é absurdo.Em momento algum fica claro como isso poderia se dar e ninguém parece notar a obscena ausência de nexo desse desvirtuamento da realidade pela carência de lógica mais rudimentar a uma tácita causalidade de manicômio.O que se está tentando empurrar goela abaixo ao leitor é algo do tipo : ‘Vamos reduzir o número de igrejas (sinagogas, mesquitas) e em breve não teremos necessidade de presídios’, por exemplo.Não causa surpresa, no entanto, que isso pareça razoável num contexto social em que MARCHA DA MACONHA, MARCHA DO ORGULHO GAY e MARCHA DAS VADIAS, entre outros, ganhem atenção em detrimento aos grandes problemas do país.O fato é que uma sugestão enganosa tão gritante e obscena só reverbera entre a massa em função de entorpecimento crítico e moral crônicos ( acima de tudo é necessário estar atento a qualquer mal estar potencial em se manifestar contrário à ‘tendência’, não seria politicamente correto...).Aceitar como incontestável a idéia de que a religião seja mesmo um obstáculo ao desenvolvimento social talvez tenha em sua origem as mesmas premissas que tornariam aceitável o aborto legalizado e a prática homossexual uma ‘manifestação afetiva’ digna e acima de crítica, acima, portanto, da própria noção de liberdade de consciência.
Outro aspecto desse equívoco é de natureza mais elementar, o de simples leitura competente de dados estatísticos, até onde sejam realmente confiáveis.Algo muito fácil de se observar ao tentar levar a sério os percentuais de ateus nos países nórdicos (Suécia,Noruega,Dinamarca e Islândia).Uma observação atenta na história da religião desses países é suficiente para que se note que não são, de forma alguma, nações que se construíram sobre alicerces irreligiosos ( existe alguma? ), antes, tiveram suas respectivas fases de paganismo, cristianismo e influência do secularismo. Na Noruega, por exemplo, a separação entre religião e estado se deu em 2000 (!).A história da Alemanha não difere tanto, exceto pela diminuição da população de confissão protestante em relação à católica, notadamente após a 2.ª Guerra Mundial.De maneira que o aumento do número de ateus e agnósticos nessas nações é algo relativamente recente, recente demais para que a ele se possa creditar desenvolvimento social e altos indicadores de qualidade e bem estar da população.E isso se levássemos, novamente, em consideração a suposta verdade dessa relação entre religião e desenvolvimento social, coisa que é no mínimo questionável.
Da próxima vez em que ler, portanto, uma postagem a respeito de pesquisas desse tipo, não se deixe impressionar tão rápido pelos números mas questione a respeito da interpretação que o articulista faz deles e com que intenções.
Até que ponto, porém, essa visão corresponde a uma realidade?Qual a consistência dessa percepção que atrela desenvolvimento social a religião e a quem poderia interessar uma eventual intervenção dessa mesma percepção?
O discurso procura convencer por suposto teor científico e respaldo estatístico.Não há , contudo, novidade alguma nessa tentativa de associar religião a ignorância supersticiosa, tentar evidenciar que esse ‘mal’ é ainda maior que parece é apenas um requinte histérico não muito bem disfarçado.Daí a sugerir uma solução final como proposta viável é um mínimo esforço e todos sabemos como isso costuma acabar.Cumpre questionar qual a verdade envolvida nesse humanístico apelo.
O primeiro grande problema com essa mentalidade irreligiosa é estabelecer como definitivo que os problemas sociais de uma sociedade podem ser sanados ao se intervir na fé professada pela maioria da população senão mesmo extingui-la por completo, a sugestão está implícita.A levar a sério tal discurso, assume-se que os problemas na educação, segurança pública, de saúde e distribuição de renda são uma consequência direta da religião predominante da sociedade, o que é absurdo.Em momento algum fica claro como isso poderia se dar e ninguém parece notar a obscena ausência de nexo desse desvirtuamento da realidade pela carência de lógica mais rudimentar a uma tácita causalidade de manicômio.O que se está tentando empurrar goela abaixo ao leitor é algo do tipo : ‘Vamos reduzir o número de igrejas (sinagogas, mesquitas) e em breve não teremos necessidade de presídios’, por exemplo.Não causa surpresa, no entanto, que isso pareça razoável num contexto social em que MARCHA DA MACONHA, MARCHA DO ORGULHO GAY e MARCHA DAS VADIAS, entre outros, ganhem atenção em detrimento aos grandes problemas do país.O fato é que uma sugestão enganosa tão gritante e obscena só reverbera entre a massa em função de entorpecimento crítico e moral crônicos ( acima de tudo é necessário estar atento a qualquer mal estar potencial em se manifestar contrário à ‘tendência’, não seria politicamente correto...).Aceitar como incontestável a idéia de que a religião seja mesmo um obstáculo ao desenvolvimento social talvez tenha em sua origem as mesmas premissas que tornariam aceitável o aborto legalizado e a prática homossexual uma ‘manifestação afetiva’ digna e acima de crítica, acima, portanto, da própria noção de liberdade de consciência.
Outro aspecto desse equívoco é de natureza mais elementar, o de simples leitura competente de dados estatísticos, até onde sejam realmente confiáveis.Algo muito fácil de se observar ao tentar levar a sério os percentuais de ateus nos países nórdicos (Suécia,Noruega,Dinamarca e Islândia).Uma observação atenta na história da religião desses países é suficiente para que se note que não são, de forma alguma, nações que se construíram sobre alicerces irreligiosos ( existe alguma? ), antes, tiveram suas respectivas fases de paganismo, cristianismo e influência do secularismo. Na Noruega, por exemplo, a separação entre religião e estado se deu em 2000 (!).A história da Alemanha não difere tanto, exceto pela diminuição da população de confissão protestante em relação à católica, notadamente após a 2.ª Guerra Mundial.De maneira que o aumento do número de ateus e agnósticos nessas nações é algo relativamente recente, recente demais para que a ele se possa creditar desenvolvimento social e altos indicadores de qualidade e bem estar da população.E isso se levássemos, novamente, em consideração a suposta verdade dessa relação entre religião e desenvolvimento social, coisa que é no mínimo questionável.
Da próxima vez em que ler, portanto, uma postagem a respeito de pesquisas desse tipo, não se deixe impressionar tão rápido pelos números mas questione a respeito da interpretação que o articulista faz deles e com que intenções.