Concepção a Loucura (Um texto sobre a loucura)
Salve os loucos roucos rotos¹, a flagelação do normal, toda forma de não ser um louco malicioso, atrevido e estruturado. Estruturado de ideias, criatividade espontânea, rabiscos no mundo crômico. Onde estão aqueles gritos que ouvíamos nas esquinas, o cheiro de urina e as mulheres amantes? Onde estão os poetas malucos, que faziam da poesia o abstrato do contexto viver? Sem precisar da falação de leitores e ouvintes? E os próprios seres malucos? Os cômicos? É tudo tão certo, é tudo colocado em sua devida prateleira, nada mais é tão bagunçado, movido ao que queremos deixar de ser tão cordial. A loucura exata vem se escondendo caros anfitriões. Se mexermos em algo, que seja de nossas cucas meliantes. Alienam tudo e de tudo se é alienado.
Guardemos nossos distúrbios imorais ao necessário. Os homens do governo, (faça-se lembrar de que temos o governo acima de nossas cabeças, abaixo do céu) os homens das armas, os homens doentes pelo poder, os soltam pelos ares como bombas de mercúrio. Cegam, crucificam, clamam pela religião que se vende, não se esquecendo dos ídolos que idolatramos além de nós mesmos. Culpam-se ministros, deuses, demônios, tudo pela falta da cultura universal. Ultrapassam todas as margens do saber e aprender o eu.
A limitação pelo belo (aos ouvidos e vista dos loucos, eis algo feio, sem graça.) e pelo consumível. Assim se faz o ser humano. Frágil ao que se lança e ao que se discute. Eis um problema sem fim. Aquele velho ato de se acreditar em tudo em que dizem, de acreditar em tudo que criam. Ousem acreditar no que sai da própria boca, da própria e única mente. Eis o mal-estar na civilização, já discutido de maneira mais abrangente por Freud: É difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam o poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida.
Tudo que vem da loucura é aproveitado. Um grito, um gesto, a escrita dos loucos, o amor dos loucos. É preferível ter a loucura em um mundo em que ser normal é um fracasso, em que o interior é válido como um nada. Anormais, queiram despertar.
1 Trecho da canção "Da Loucura" de Ivan Tenório Barros.