Desabafo
Desabafo
Perante todos os meus fracassos, prevaleça a indelicadeza de um sentimento íntimo, sutil e incapaz de declarar-se á donzela amada. Mantenha no mais alto patamar toda a indecisão, e também a solidão e toda a bagagem que carrega a saudade; a saudade daquilo que nunca mais se poderá sentir novamente.
Há de patentear todas as lágrimas que escorre, cada respingo e cada segundo que se perde almejando um amor hipócrita, um mero devaneio, uma cortina de fumaça onde se esconde o covarde. Há de querer de volta tudo aquilo que se sentiu, irá repetir tudo que declarou e todo o elenco se estabelece para representar todo o teatro que se encenou. De nada adiantará, nunca se redimirá sem jamais prostrar-se diante a melancolia; uma melancolia análoga a qualquer breu escuro, por onde os passos não são vistos, só um traçado míope de um caminho incerto á se seguir. De nada servirá as promessas vãs que foram cuspidas sem nenhuma consideração, sem nenhuma relação. E as cartas escritas, são apenas os versos que hoje são como pedras, hei de tropeçar em cada uma até que meu corpo se acostume ás quedas.
Até que o auge do conformismo me contenha. Até que o monstro me consuma. Até que a minha face desapareça. Até que o vento massageie as maçãs do meu rosto. Até que a terra deforme meu corpo e que reste apenas o fedor pútrido e talvez o fogo-fátuo para representar um amor decadente e não declarado. Ai veremos se o amor resiste a eternidade do tempo.