Por quê mudar?
Já estava me acostumando com esse cheiro de vazio,
com essa bagunça que já se tornara organizada em minha mente,
nessa rotina sempre previsível,
varada de preguiça, ou raramente de atitude.
Mas, uma pergunta de vez em quando vinha à tona,
normalmente era a responsável por me deixar meio deprimido por um tempo,
pensando em coisas que eu realmente não entendia,
me fazendo chegar a lugar nenhum,
evidenciando a falta de controle que eu tenho sobre minha vida.
Mas, por quê mudar? Essa era a pergunta.
Esses momentos não duram para sempre,
eu poderia aproveitar a grande parcela do céu,
e enfrentar o inferno ocasionalmente. Era esse o plano,
desde o inicio era isso que eu faria, não tinha porquê mudar.
Foi aí que esse inferno foi ficando mais intenso,
trazendo a tona situações cada vez mais complicadas,
cada vez mais longas e intensas.
E de repente eu não tinha apenas uma parcela insignificante.
Eu comecei a dar uma atenção maior pra isso,
as situações me forçaram, mas ainda não tenho a resposta.
Por quê mudar?
No final das contas ainda tinha tudo o que eu queria,
alguma coisa aqui dentro poderia não estar contente,
porém, nada que não possa ser escondido por um sorriso falso,
uma boa história falsa, ou até mesmo uma taça de vinho.
Cheguei no limite, aproveitei a farra toda enquanto pude,
até que percebi que alternei esse tempo todo pelos mesmos pontos,
e por isso sentia sempre o mesmo cheiro,
via sempre as mesmas coisas,
e lamentava sempre o mesmo que eu sempre deixava de fazer.
Foi quando vi que na verdade a pergunta que tanto me atormentava,
não fazia nenhum sentido.
Por quê mudar?
Eu não tinha nenhuma ambição pra ter interesse por mudanças,
eu gostava tanto de ter essas falsas sensações,
e já havia adquirido o costume de aceitar esses momentos de céu e inferno.
Confortável em minha sala de isolamento,
longe de tudo que possa me atingir de verdade,
eu só pude pensar em uma coisa,
e a mesma não era ainda uma resposta.
foi quando vi que a pergunta não estava completa.
Por quê não mudar?
Era isso que eu queria saber sobre mim.
Porque eu deveria aceitar as coisas como estavam acontecendo se eu não estava feliz e nem ao menos triste com elas?
Por quê fingir que a vida é daquele jeito,
se por mais que eu não estivesse executando planos,
no fundo sabia que não era aquilo que eu gostaria de ter para sempre?
Talvez a vida não deva ser vivida pelas melhores respostas,
talvez o nosso grande poder de vivenciar verdadeiramente algumas coisas,
esteja dentro de nossa habilidade para fazer perguntas,
as quais não necessariamente precisam ter uma resposta,
só precisam fazer sentido para quem pergunta.
Por quê não mudar?