Aprisionados

Conheço algumas pessoas que, de tão sérias, estudiosas e cultas, teimam em evidenciar uma postura rígida e intelectual em excesso. Aparentam estar engessadas por preceitos e conceitos, recusando-se a admitir que existem grandes diferenças entre todos nós. Essas pessoas, vivem num mundo de permanente tensão e são profundamente infelizes, já que para elas tudo ou quase tudo está obviamente errado e deveria passar pelo crivo das grandes verdades teorizadas. Normalmente, elas conhecem a fundo a história dos povos e as principais correntes filosóficas da humanidade. Acham que o mundo e as pessoas estão irremediavelmente perdidos, já que o planeta se transformou numa gigantesca máquina voraz, de cunho comercial e capitalista. Preferem se manifestar, através de frases ou comentários sarcásticos. Pequenas ações, que manifestem o desejo de se afirmar contra, mas que ao mesmo tempo assegurem, de alguma forma, a sua proteção. Acham também que estão, claro, do outro lado dessa questão e por isso devem continuar fiéis aos seus princípios. Preferem aguardar pela chegada de dias melhores. Adoram cuspir ou vomitar palavras e pequenos atos de insatisfação, mas nunca evidenciando vontade em aplicar na prática, os conhecimentos teóricos e preciosos que possuem. Parecem não compreender o mundo e as pessoas, para além da sua cortina pálida, forrada por livros acadêmicos. Não toleram a simplicidade. São pessoas que parecem perigosamente aprisionadas por uma pseudo-intelectualidade que as asfixia e conduz por caminhos sombrios, áridos e sem volta.

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 08/09/2012
Reeditado em 05/07/2020
Código do texto: T3871719
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