NESTAS HORAS DE AUSÊNCIA...
Nestas horas de ausência - infelizmente - eu me perco. E perco-me inadvertidamente... entre os meus venenos e os teus sorrisos, entre os meus pecados e os teus poemas, entre os meus olhos e o teu corpo, entre a minha esperança e o teu choro. Mas, sorrateiramente, cala-me a tua voz; que foi se perder em outros universos, que resolveu pausar-me o canto e silenciou-se - inesperadamente. Assim, percebo que não entendo nada de absolutamente nada; percebo que me pausa a vida, que me centrifuga a dor e que me queima a lembrança; lembrança essa que se transformou na ultima página de um livro que eu nunca mais termino. Mas - eu te confesso... ontem desisti de ler-te; confesso que hoje, um pouco mais apegado que amanhã, passo a folhear-te apenas pelas imagens, pelos sons e pelas muitas interrogações. Desisti de passar o tempo; aliás, pelo tempo não eu já nem passo, eu já pausei-me... pausei-me também diante da saudade. Mas, não sinto dor, não sinto nada que me faça sofrer. Acho que a morfina é leve nestas horas e as doses de Absinto matam a sede do indescritível. Quem sabe as estrelas contarão a tua ausência, quem sabe as lendas reescreverão meus sonhos e, num instante mágico, a saudade sucumbirá a força do universo. Quem sabe eu deixe de sentir que já não sinto nada. Quem sabe eu passe a acreditar que tudo isso é sono... é sonho! Quem sabe eu não me mate com a morfina e nem me embriague com as doses de veneno. Quem sabe eu entenda que a vida é ligeira e que passamos mais ligeiro ainda. Quem sabe eu te encontre abrindo a porta que existe mim. Mas agora... antes da morfina e dos venenos... só me resta tentar lembrar onde joguei a chave, só me resta tentar encontrá-la para que (abrindo a porta que existe em mim) possa encontrar-te. Pois, nesta altura da vida, me encontrar é impossível. Ahhhhhhh, pelas horas de ausência, eu já me perdi faz tempo!