Um Segredo? A Decisão.
Eu queria comentar, deixe-me apenas citar rapidamente, e assim acalmar minhas massas cinzentas esquizofrênicas. Preciso tão somente dizer e não deixar margens á duvida, ou talvez precise do oposto, precise falar esganiçadamente e tagarelamente com o intuito de dizer nada, no fim dá na mesma. Quero que você me escute, mas faça com atenção, porque eu só vou falar uma vez, bem rapidamente, e bem dolorosamente também, assim como tiramos o curativo daquele acidente impertinente. Vou ser concisamente confusa e deixar você perceber só aquilo que deseja, então é melhor ser atencioso comigo, ou vai perder sua chance. Tenho gritos ecoando aqui dentro, talvez sejam os fantasmas ocultos que insistem em me azucrinar, mas não faz mal, para o bem ou não, eles estão do meu lado.
Então só abra bem os olhos, respire fundo, aguce seu ouvido, e fique em silêncio, porque eu vou te contar um segredo.
Eu decidi sorrir, bobamente, alegremente, para o meu ursinho de pelúcia.
Decidi chorar copiosamente por aquele pedaço de papel jogado no lixo.
Sem perceber, eu acabei decidindo amar intensamente qualquer coisa, mesmo a parede da sala de estar.
Eu decidi errar para transferir o medo ás consequências e não às tentativas nunca feitas.
Me deparei com a decisão de acertar tão precisamente mesmo que um soco de direita no meu nariz.
A voz aguda no meu cérebro decidiu por mim que vou correr por aí descalça, sem "eira nem beira", gritando para quem quiser.
Meu pés me guiaram decididamente para a jornada de uma concretude básica.
E infelizmente, tive que decidir ser feliz.
Ou felizmente, decidi não ser infeliz.
Mas aí decididamente percebi que isso não me leva a nada, e de impasse por incerteza, prefiro assim ficar.
Então, entre decisões mal cabidas e indecisões perdidas, não decidi, mas persisti.
E quer saber? Descobri que tudo é tão mais fácil sem nada a decidir.
Por que decidir? Para quê decidir? Para quem decidir? Por quem decidir?
Pra decidir basta a indecisão, e para a indecisão basta a falta de coerência ou lógica na decisão, então sabe o que fiz?
Decidi te contar um segredo.
Mas como decisão claramente não é meu forte, me queixei comigo mesma, e claro, com os fantasmas ocultos, e acabei dexando-se a decidir.
E alguma força maior, intrinseca no mundo, que se compadeceu da minha indelicada falta de decisão, decidiu por mim.
Daí só o que precisei fazer, foi justamente fazer.
E fiz.
Sem decidir absolutamente nada.
Ou decidindo absolutamente tudo.