A busca pela liberdade de uma criança

Quantos de nós somos pobres? Pobres de que afinal? Não é preciso que sejamos pobres apenas de valores e cotações para que sejamos assim, as vezes vivemos num luxo sem fim, e numa solidão sem igual - eu nunca pensei que fosse dizer isso, e nunca pensei que passaria tamanha emoção como hoje.

Certo dia vi um rapaz sujo de lama numa delegacia, não notei que o conhecia, um oriundo de manguetown, e pior ainda, alguém que vive nas sombras da lama do mangue e no forte frio daquela lama na pele, com pai, com mãe, e sem família nenhuma ao mesmo tempo, uma pessoa abandonada pelo tempo, esquecida pelo nada, um ninguém - preso, mordido pelas cobras fardadas, sujo e cheio de pancadas, dadas e jamais retiradas, pancadas que humilham, que deterioram o caráter, mais ainda que sua própria vida o pudesse destrui-lo, com pena, com sede de justiça e fome de vê-lo como vencendo como eu venci, não os mesmos inimigos, e não a mesma vida, mas o mesmo sentimento, então me ofereci - te defendo eu disse.

Desesperado, fiz quanto fosse o possível, dei tudo que poderia dar, fiz tudo que poderia fazer, fui ouvido e tirei-o de lá, e agora a decepção que não esperava ter, fui telefonado por quem me disse que pra lá voltou - será que eles estão certos e o ser não tem mais jeito? não tem conserto, acerto?

Não peço a Deus, não confio, não acredito, agora no momento não faço mais, estou inerte, meio sensível, porém não incapaz, fui lá mais uma vez, resgatei-o, tirei-o de lá e descobri minha vocação, afinal é apenas uma criança, uma criança apenas e ninguém entende quando isso é dito, só entende quando adotam para que sejam seus filhos, não como que biologicos, mas filhos do coração - quer queira, quer não, fechando os olhos, com sua lembrança na mente e sua promessa de que nao iria mais se envolver, fico triste com as novas notícias, não quero te ver desgraçado no chão, não quero te ver destruído, queria que vencesse comigo, os pequenos gigantes de uma grande vida.

Somos pobres, apenas quando fechamos os sentidos para os acontecimentos, somos finalmente incapazes.

Para popô.

Clóvis Correia de Albuquerque Neto
Enviado por Clóvis Correia de Albuquerque Neto em 24/08/2012
Reeditado em 24/08/2012
Código do texto: T3846283
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