Aprisionada

Ultimamente nada parece capaz de me dar motivos para continuar aqui, neste lugar onde sempre estive. Muitas vezes já desejei estar aqui e não ir embora nunca mais. Mas havia dias em que eu desejava estar o mais longe possível.

Ultimamente não quero mais estar aqui. Não quero mais ficar parada ao seu lado, nesse caminho que você me fez escolher. Não quero mais ficar parada esperando por mudanças e sofrendo com suas palavras fáceis. Não adianta fazer promessas atrativas enquanto olha em meus olhos se depois a única coisa que você fará é enchê-los de lágrimas. E essas lágrimas sempre são causadas pelas decepções que você me trouxe e pelas mentiras que você me fez, mais uma vez, acreditar.

Quando estou aqui sozinha, fecho os olhos e começo a refletir. Me perco em meus pensamentos, me atraio pelos meus sonhos, me iludo com uma vida melhor. Me vejo vivendo uma vida longe daqui, e principalmente, longe de você. Mas quando abro os olhos e vejo que estou no mesmo lugar, presa em você e em seus sentimentos, vejo a vida perder o sentido. O sentido do qual só tinha quando eu estava ao seu lado.

Quando me perco por saber que não há como sair daqui, acabo me afogando em minhas próprias lágrimas, além de me sufocar pela falta de ar. Sinto o sangue perder a cor. Sinto a dor pulsar em meu coração. Sinto dificuldade em sorrir. Sinto a solidão como minha única companheira. Essa solidão persiste até você chegar. Eu sei que você estará sempre ao meu lado, mas não do jeito que esteve antes. Não do jeito que me fazia feliz.

Quando olho para o seu rosto me lembro de todas as sensações que você me fez sentir. Me lembro de todos sentimentos que existiam dentro de mim quando apenas olhava para você, quando apenas ouvia sua voz. Aqueles sentimentos se misturavam uns com os outros, dançavam como se fosse uma grande explosão de cores. Todas essas sensações e sentimentos dos quais faziam parte dos meus dias constantemente, por qualquer motivo que incluísse você, estão muito distantes de mim hoje. Tão distantes que só os tenho em minhas lembranças.

Eu decidi tomar coragem e colocar estes sentimentos em um baú, e assim os enterrando profundamente em um canto deste lugar onde estou. Eu tive vários motivos para encontrar coragem e jogar esses sentimentos fora, os transformando apenas em lembranças. Antigamente, ao olhar para o seu rosto, eu sentia toda aquela confusão dentro de mim, uma confusão alegre e sintonizada. Mas ultimamente, quando olho para o seu rosto, não vejo mais aquele brilho em seus olhos do qual eu não me cansava de olhar. Ele sumiu. Não vejo mais sinceridade em suas palavras, não vejo mais promessas a serem cumpridas. Não sinto carinho em suas mãos, não sinto mais aquele sabor em nossos beijos.

Quando você me abraça, me sinto sufocada, como se não tivesse para onde ir. Tudo está exatamente igual, mas completamente diferente. Você continua me olhando do mesmo jeito, e dizendo as mesmas coisas com o mesmo abraço, mas a minha forma de te enxergar mudou. Você simplesmente parou de se importar, como se cada problema entre nós não tivesse significado nada. Não há mais porque eu acreditar que algumas mudanças necessárias irão acontecer, e que com isso irei sentir todas aquelas borboletas voando, capazes de me trazer aquelas sensações fantásticas que eu sentia antigamente. Eu sei que isso não vai acontecer. Sou escrava de seus sentimentos, e eles têm que ser do seu jeito. Você não pode mudá-los por outra pessoa. Eu pude. Deixei grande parte de mim de lado para que tudo desse certo e que aquela facilidade em sorrir continuasse em nossas vidas.

Mas talvez eu não seja tão importante assim para você como eu pensava que era, pois se eu realmente fosse, você estaria lutando para que meu coração continuasse batendo por você, para que meus pés continuassem andando em sua direção. Mas meus pés estão aqui parados e meu coração bate sem motivo algum. Mas de qualquer forma, você só se importa se o seu coração está batendo por mim. Você quer que o meu coração continue batendo mesmo que não haja motivo para incentivá-lo. Não tenho dúvidas de que você me ama, pois o lugar onde estou me mostra claramente isso. Porém, você me ama e esquece que o amor sozinho não tem muita força. Esquece que duas vidas unidas precisam de atitudes, mudanças e melhoras. Porém, você se esquece disso por me amar e achar que assim já está tudo bem, só por eu estar em seu coração.

Com tudo isso, não há como eu me expressar. É por isso que sofro em silêncio. Somente eu sei que estou cansada desse lugar. Somente eu sei que meu corpo está cansado de permanecer aqui, que meus olhos estão cansados dessa mesma visão. Somente eu sei que meu coração está livre para ir embora, mas eu não. Eu estou presa aqui dentro. E eu sei que ficar bem não é apenas uma opção, mas sim uma necessidade. E agora, ao saber disso, da minha necessidade em ficar bem, seja com ou sem você, encontrei a coragem que me faltava para ir embora. Meus pés se levantam com muita vontade, meu corpo finalmente conseguiu encontrar forças. Lágrimas ainda saem dos meus olhos, mas com um brilho neles. E depois de tanto tempo sem conseguir demonstrar felicidade, não preciso fazer nenhum esforço para sorrir.

Desenterrarei o baú com meus sentimentos, e o levarei comigo. Estou indo embora do seu coração, finalmente. Não aguento mais esse lugar, essas mesmas batidas e o mesmo som. Irei embora para nunca mais voltar. Você poderá me amar por algum tempo, e algumas feridas poderão continuar em seu coração, pois por muito tempo tentei achar uma saída dele. Mas eu mal sabia que eu só precisava de coragem e força de vontade para ir embora, para abrir um novo caminho.

Ao sair de dentro do seu coração, irei abrir o baú e deixarei meus sentimentos se espalharem pelo ar. Sei que será uma visão linda. Um festival de cores, movimentos e explosões. Os meus sentimentos estarão bem longes de você, para que você não consiga recuperá-los e fazer com que eu me apaixone novamente. E os meus sentimentos estarão bem longe de mim, para que eu possa finalmente esquecer que eles um dia existiram.

(Texto escrito em dezembro de 2011)