Três Ânsias

A ânsia que dá ver um pontinho branco com pontículos ora laranjas, ora vermelhos, ao longe, cada vez mais longe, quase que engolido pela imensidão azul de céu de fins de inverno que me dá. Saber que ali dentro existem pessoas que estão indo a algum lugar - qualquer lugar: outra cidade, estado, país, morte - me deixa inquieto, enfastiado com a minha vida, cujas paisagens só mudam no que tange os infortúnios.

A ânsia que dá ser esse cara descendo uma Alameda de prédios, com as luzes redondas e fortes dos portões dos estacionamentos espicaçando a visão. O regurgitar da bílis que insiste em subir e ganhar o mundo. Uma reação natural ao mal que ele emana a quem ama. A manifestação de repulsa de seu corpo aos opróbrios que seus hormônios impõem à sua sanidade. Um ser-castelo-fisiológico que erige e declina suas inspirações e suas aspirações.

A ânsia por chorar debruçado em teus seios, ó Morte-em-vida, minha gêmea no mal, na dor, e no amor... O desejo de em tuas carnes afogar meus maus agouros e a avidez de, em teu mel-fel que escorre, irmã, expiar minhas maldições, maledicências e traições. Vinde a mim, mulher, e deixe-me em ti escorar meu choro. Por que és tu o acidente a quem eu imploro socorro?

21/08/2012 - 14h10m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 22/08/2012
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