Sacrifício

O quanto você seria capaz pelo amor de alguém? Eu seria capaz das mais intrigantes e absolutas certezas, respiraria fundo e mergulharia de cabeça, rezando alto pela minha eterna discrição, porque o amor não precisa de alarde para soar quando se chega. Precisa mais que isso, mais até que a própria certeza: precisa estar livre, inteiramente livre. Esperava baixo, calado, guardaria meu corpo num rótulo e minha alma numa garrafa, pra você beber de porre e entornar a noite inteira de mágoa e desconsolo. No dia seguinte eu seria tua dor de cabeça, teu âmago descrente, tua latência vã, cuspe inerente, cansaço ardil... Isso te faria lembrar que eu sempre existi, sempre estive por aqui, você é que não me via... E para me ver, precisou sofrer, precisou mentir a si mesmo, enganar a mim, jamais... Não tens pose pra disfarçar nem cacife pra mentir, mas estou aqui, como sempre. A essa altura, vem você e me pergunta: "Ainda és capaz de sofrer tanto assim para esperar meu amor?" Tola pergunta, ampla resposta: "SIM!" Fique onde está e chegue sem avisar, não precisa forçar o laço, eu sei por onde te atar.