Medos e gafes
Damião, creio que esse seja meu nome. É o que diz a plaquinha pendurada em meu pescoço desde que eu nasci. Mas não me chame assim, por favor.
Eu sou só o... Dam!
Bom, o que falar? Moro na rua, sozinho, não tenho família - porque, aparentemente, eles me largaram - e fui criado em um orfanato. Fugi mês passado.
Sofria preconceito lá, não gostava.
Fiz uma tatuagem semana passada com uns amigos.
Estudei em uma escolinha meia-boca até o 8° ano, depois disso, fugia da escola. Errado era, sim, isso eu sei, mas não aguentava nem mais um segundo.
Sabe, eu tenho medo daquelas pessoas que machucam os moradores de rua por brincadeira. Eu posso ser um deles. A qualquer momento.
Quero sair da rua, encontrar um lar, alguém que me acolha, que me entenda, que não me rejeite.
Mas enquanto isso não acontece - se é que vai acontecer - continuo morando embaixo dessa ponte, sob cobertores de papelão e travesseiros de pedra.
Parece que estou morto, completamente apagado, invisível a tudo e a todos.
Como se eu vivesse em um submundo sujo e horrível, em uma espécie de redoma de medos e gafes, onde todos têm preconceito, onde ninguém quer olhar para mim ou, quem percebe minha presença, sente-se enojado.
Não aguento mais.
Preciso voltar a viver.